sábado, 25 de dezembro de 2010

leituras demoradas: elisabeth costello.

j. m. coetzee: elisabeth costello. debolsillo. barcelona 2005.

fijo-se difícil de ler por lento, calmoso, mas nom polo que conta. eu quedei-me com aparte paródica do assunto é divertim-me muito.

elisabeth costello é umha escritora australiana de grande fama que adica o tempo a aceitar conferências e prémios que nunca devera ter aceitado. e acaba metendo-se me sarilhos porque nom pensa o que diz e diz o que pensa. e quase sempre pensa cousas incorrectas politicamente ou moralmente.

eu gostei muito dessa desolaçom e velha, dessa incapacidade da protagonista para luitar contra os elementos da vida para-literária: universidades, jornalistas, licéus e casinos.

o que menos; o epílogo, estava desejando acabar...

leituras demoradas: o pastel de pel de pataca

mary ann shaffer e annie barrows: la sociedad literaria y el pastel de piel de patata de guernsey. rba editores. madrid 2009.

quando menos o livro tinha um título curioso que provocava perguntas. para mim a primeira, onde é que está guernsey? e atadinhas a ela, as outras.

a historia trascorre na posguerra europeia, é dizer, na da segunda guerra mundial. e guernsey é uma pequena ilha de povoaçom inglesa na canle da mancha ocupada polos nazis. a protagonista do romance visita a ilha para escrever unha crónica sobre o seu clube de leitura. e dessa maneira sabe das misérias e fortunas ás que os ilhéus foram levados pola guerra.

no livro damos com um canto à literatura como forma de libertaçom pessoal, como refúgio perante à crudeza e dureza da quiotidiania, só que porvezes ronça o culebrom, com tantos amores e odios de por meio. e o recurso do gênero epistolar nom foi o mais acaído para o meu gosto.

mas, fora estas pexas, o livro é de boa leitura, e compensa com humor os horrores bélicos que conta, as situaçons extremas que se passaram na ilha. há personagens curiosas e divertidas, ainda que algumha excessivamente perfecta.

linda costureirinha chinesa

sijie dai: balzac y la joven costurera china. salamandra. barcelona 2001.

dous rapazes som enviados a "re-educar-se" a uma regiom perdida do tíbet na china comunista. no exílio interior deveram aprender a renunciar a qualquer resto de ocidentalismo que ressuma o seu corpo ou o seu cérebro ou nom voltarám nunca com as suas famílias. trabalharám com os labregos, nas minas, protagonizarám sessons colectivas de cinema narrado... e conhecerám á filha do xastre.

umha mala perdida que agocha romances da literatura europeia, sobre todo balzac, fará o seu retiro mais levadeiro. a idea dos rapazes nom é só ler e gozar lendo, mas aprender á costureirinha analfabeta a gozar da literatura.

consiguem-no. essa é a sua má sorte...

um livro mui bem escrito, de maneira singela, mas cheio de esconderijos dos que assomam segundas leituras. ressuma humor negro e retranca, com o que consigue compensar a dureza de muitas das situaçons narradas.

a mim tem-me um ar com este outro angolano que lim há tempos, mas igual é que as ditaduras do proletariado exigem as mesmas respostas literárias...

e há versom cinematográfica, do mesmo autor do livro:

outra ideia de galiza

miguel-anxo murado: otra idea de galicia. debate. barcelona 2008.

foi este livro proposta do clube de leitura de vila-garcia. já lera de murado o fim de século em palestina e gostara muito. e este, sendo mui diferente, nom me decepcionou.
diferente ou nom. a atitude do escritor penso que é a mesma: é quem de posicionar-se sem ambiguidades e ao mesmo tempo manter a atitude crítica. algo que admiro porque penso que sou incapaz de fazê-lo.

este ensaio está ideado para un destinatário concreto: o leitor nom-galego que quer conhecer galiza. mas a realidade (triste?) é que muitos galegos e galegas deveriamos lê-lo para aprendermos algo de nós mesmos. muitas das cousas que murado narra som desconhecidas para a maioria da povoaçom galega.

o livro parte da galiza geográfica e dumha figura exemplar: domingo fontám. aí já me ganhou o autor, pois o senhor fontam é para mim um ídolo recente. e é desde a geografia, desde a teoria de que galiza tem já umha paisagem separatista, que murado vai construindo todos os capítulos, aparentemente centrados num tema (a história, a política, a economía, a língua...), mais pesponteados por todos os outros.

O livro procura mais que desmontar tópicos, mostrar a sua fonte, levar-nos á sua origem da mao, num passeio por séculos de história, que se faz ameno e descansado. para mim foi incrível a capacidade do autor para seleccionar aqueles elementos que melhor explicam as ideias (falsas, verídicas) de galiza que polo mundo circulam.

o interessante, para mim, é que nom comparto todas as visons nem todos os pontos de vista do autor, precisamente nuns temas que me tocam muito de cerca e nos que, porvezes, viro visceral. e, sabendo isto, o saibo da leitura é muito grato, e do que dá vontade é de falar e debater, que foi provavelmente a ideia do autor. o livro nom desmerece o nome da editora: umha galiza para o debate.


Leituras demoradas: ulises no mar de cor de vinho

giovanni nucci: las aventuras de ulises. ilustraçons de chiara carrer. siruela. madrid 2009.

andava a buscar livros que tratasem o tema da mitologia para propor a súa leitura ao meu alunado de primeiro da eso. e dei com esta excelentíssima versom das aventuras de ulises.

uma das cousas que mais me amedam de dar a ler clássicos ao alunado som os valores (para mim contra-valores) que muitas vezes estes clássicos defendem, nomeadamente a violência e o sexismo. todo isto tem a mitologia grecolatina.

e justo isto trabalha giovanni nucci na sua versom. o narrador desta versom de ulises é como um velhete que lhe está a contar a história ao seu neto, introduzindo, mais que os seus comentários, o seu tom de retranca. desta maneira contrarresta esses valores que se dam na história original, com humor e piscadelas que fam pensar ao leitor e cuestionar que o que digam os clássicos vai a missa.

o livro nom conta ademais, só a história de ulises porque, para achegar-nos a ela, narra outros episódios da mitologia que dam pé a novas leituras. e todo isto, com um estilo muito cuidado e a imagem do mar cor de vinho unificando todos os capítulos.

a desavantagem: o preço. nom foi livro de leitura obrigada nas minhas aulas porque nom tenho a cara de pedir-lhe ao alunado que gaste 19 euracos num livro. nom digo que nom o valha, mas custa muito.

duas mulheres em praga

juan josé millás: dos mujeres en praga. espasa-calpe. madrid 2002.

nom aprendo. nom há maneira. sempre me acontece o mesmo com millás. como habitualmente gosto muito e me divirto com os seus artigos de opiniom, penso que os seus romances ou contos vam ser igual.
e esse é o problema. os seus romances som iguais que os artigos e nom passam o crivo. nom resistem a leitura atenta. ficam na superficialidade, na bricandeira, muitas vezes, como neste caso, trabalhada, mas simples brincadeira.
os temas som os de sempre: a vida insulsa quotidiana, o duplo ou o gémeo, a fantasia ocultando a realidade...
fijo-me graça, e rim; mas aguardava mais.

leituras demoradas: eu tinha umha casa em áfrica.

isak dinesen: memorias de áfrica. alfaguara blosillo. madrid.

outro filme que sempre gostei de ver uma e outra vez foi memórias de áfrica, do sidney pollack. este, mais que vontade de ler a obra original, deixou-me vontade de ler qualquer cousa da sua autora.
o curioso é que o livro começa igual que a película, com essa mesma primeira e famosa frasse: eu tinha uma casa em áfrica, ao sopé das colinas do ngong. partindo de aí, já nada é igual, ainda que sim, todo é igual, na essência. O filme recolhe e fabula um único capítulo dos cinco que tem o livro, mas inserta pormenores e anedotas esparegidos polo resto da narrativa. desta maneira, a leitura oferece-se-nos totalmente diferente á visom cinematográfica, mas sem traiçons.
surprende a visom da áfrica dumha mulher dançando de contínuo entre a visom colonialista e imperialista, muito paternalista, lindando o racismo, e o respeito ás culturas indígenas e a funda curiosidade por elas. cada capítulo dá-nos umha de cal e umha de areia.

vontade de entrar-lhe aos contos góticos.

leituras demoradas: perigosas amizades.


pierre choderlos de laclos: las amistades peligrosas. alianza editorial. barcelona 2004.

sempre gostei do filme de stephen frears e daquela imensa interpretaçom de glenn close. e sempre tivem vontade de ler o livro, por isso de comparar as versons. neste caso as comparaçons penso que nom som odiosas. estranhamente, ia pasando páginas e visualizando as cenas mas com a sensaçom de que essas eram as imagens que correspondiam áquilo que lia.
muito mais destrutivo o fim do romance que o do filme...

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

leituras demoradas: paraisos perdidos

ana maría matute: paraiso inhabitado. destino. barcelona 2008.

livro fermoso e triste. ou esse é o regosto final que me deixou. o romance narra a infância duma menina sozinha. sozinha por desatendida, nom por abandonada. filha das restevas dum matrimónio desfeito, demasiado pequena para uns irmãos quase adultos, acaba por criar-se na cozinha, entre o serviço e a despensa onde se acubilha para observar.
a falta de vida real interessante, cria um mundo de imaginaçom que lhe compense a neinice solitária e achacadiça. mas o pouso para mim, lectora, nom é de imaginaçom libertadora, mas de amargor e pena.

gostei.

leituras demoradas: morning star

xosé miranda: morning star. xerais. vigo 1998.

uma adaptaçom mui digna da ilha do tesouro de stevenson. adaptaçom porque este romance colhe tal qual a estrutura narrativa inicial daquela obra (um menino, uma taberna, um tipo estranho, um cofre suspeitoso...), para narrar uma história galega, situada no tempo das guerras carlistas e dos bandoleiros e asaltantes de caminhos.

o livro é de leitura rápida e amena.

kafkiano crumb

robert crumb e zane mairowitz: kafka. ediciones la cúpula. barcelona 2010.

uma joia.

mistura fragmentos biográficos com trechos ou resumos de contos. ao tempo combina texto com banda desenhada. todo junto e revolto dam como resultado um coctel que engoles com prazer e acabas com pena por nom ficar no copo nada que sorver.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

história do universo

larry gonick: história do universo em banda desenhada. gradiva. lisboa 2007.

um alter ego de einstein leva-nos de passeio pola história deste planetinha em que vivemos, desde o big bang até a morte de alexandre o magno.

conhecemos as teorias sobre a origem do universo, recebemos umha explicaçom de como apareceu a vida, de quais fôrom os primeiros habitantes da terra, de como se extinguiram os dinossauros, de como o homo sapiens acabou por senhorear meio planeta. todo de uma maneira amena e acessível.

a obra distingue três planos: nas cartelas do narrador vai-nos sendo contada a história tal é como o demostram as fontes o tal qual a entendem as hipóteses (e sempre indicando se estamos num caso ou no outro); na parte baixa de cada página, há outra série de quadrinhos (funcionando como notas a rodapé) que ampliam umha informaçom ou nos contam umha anedota da época); e depois estám os desenhos. desenhos que muitas vezes (quase sempre) ironizam com as consequências dos factos, com a sua origem e, em geral, com a versom oficial da história.

a mim o autor ganhou-me em quanto nos quadrinhos começárom a fazer apariçom as fémeas (de qualquer espécie animal) retrucando a versom masculina ou aportando a sua olhada feminista.


um livro muito didáctico e muito divertido.


sexta-feira, 23 de julho de 2010

as pegadas da vida

tracy chevalier: las huellas de la vida. lumen. barcelona 2010.

dumha ilha a outra, mas por casualidades da vida (presentes que uma recebe). a acçom transcorre na inglaterra vitoriana: três irmãs de boa família londrina vinda a menos, a philpot, som enviadas a viver a lyme regis, umha vila da costa. lá poderám manter certo nível de vida apesar do seu obrigado celibato por falta de dote.

uma delas, elisabeth, descobre o mundo dos fósseis, que pode encontrar escavando nas praias dos arredores. esta dama conhece mary anning, umha buscadora de fósseis que vende para ajudar na sua pobre família. as duas acabam sendo amigas, apesar da diferência de classe e educaçom. as duas vam luitar contra os prejuízos da época para fazer-se valer como expertas em fósseis.

o romance é umha homenagem à literatura feminina victoirana das bronte e da austen (continuamente citada na obra) mas dando-lhe umha reviravolta feminista: as protagonistas som as outras mulheres, as que ficam sem esse happy end de matrimônio-com-alguém-adequado-às-suas-capacidades-sociais-e-económicas. as duas protagonistam acabam solteiras e mal-olhadas por vizinhança e comunidade científica e só som recuperadas e valoradas anos depois.

como tenho debilidade por estas histórias de mulheres ocult(ad)as, gostei deste romance.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

ilhas: náufrago

joan de deu prats: náufrago. anaya. madrid 2010.

este, em troca, resultou decepcionante. lim-no entre os dous anteriores, o do senhor pip e o da karana. e claro, nom resiste a comparaçom. nom tem a riqueza poética e metafórica que podem ter os outros dous, tocando temas semelhantes. assim, aparecem culturas nom ocidentais, é tratado o tema do dano medioambiental e a destruçom da bidiversidade tanto natural (aqui centrada numha orquídea) como cultural (aquí um povo das ilhas indonésicas).

mas o autor recorre ao que para mim está algo revisto, e sem aportar novidade: o esquema da pesquisa, da resoluçom de um mistério por parte do protagonista. para mim, peca daquilo que pecam outras obras pensadas para o público juvenil: a simplificaçom; como que está demasiado pensado para trabalhar na escola.

quiçás a estrutura tem algo de original, combinando duas histórias (aparentemente) simultâneas no tempo mas distantes no espaço, com surpreesa final. porém, nom aguenta o contraste com os romances citados.

dá para reflexionar o que faz duma leitura a anterior que tenhas feito. é provável que de nom ter lido aqueles antes de reflectir a minha opiniom sobre este, a mesma teria sido muito mais entusiástica. quem sabe...

segunda-feira, 12 de julho de 2010

ilhas: a ilha dos golfinhos azuis

scott o'dell: la isla de los delfines azules. noguer. barcelona 2010.

há livrarias e livrarias; livreiras e livreiras. umha que exerce de livreira de verdade, e nom de simples mercadeira de livros, é a da livraria seijas, de ponte-vedra. indirectamente, pensando no mundo das ilhas, recomendou-me este livro que, juro, nunca teria lido vista a sua capa e o seu título. mas foi enviado pola livreira e digem, bem, haverá que provar...

e dei com um bocado esquisito (no sentido galego, nom no padrom postuguês).

após uma matança provocada por uns caçadores de focas, os habitantes da ilha de são nicolau, perto da califórnia, decidem fugir. mas no caminho do exílio karana fica atrás, procurando o seu irmão pequeno. e fica sozinha sem que ninguém a resgate por infinitos soles e enternas primaveras, aguardando a chegada dum outro barco...

o livro narra, portanto, a experiência desta criança aprendendo a viver sem outra companhia que a da natureza, que tanto pode ser amiga como inimiga. karana aprende a sobreviver, podemos dizer que a viver, sem ajuda nenguma de adulto nengum, de humano qualquer. só tem com ela a sua inteligência e a memória das aprendizagens que tem feito na sua neinice com o seu povo.

o romance, que podemos inserir na tradiçom dos de aventuras, combina, para o meu gosto, duas características aparentemente contraditórias: a contençom narrativa e a riqueza das imagens e metáforas. tudo é contado sinteticamente: se a acçom consiste em pescar um peixe, a narradora diz pesquei um peixe, mas, acompanhando a isto, o uso da natureza toda -toda!- para representar a vida, o entorno, os sentimentos faz apariçom de contínuo.
mas do que eu gostei imensamente é daquilo que transmite esta história. de primeiro, e contrastando com aquele senhor das moscas que tanto me impactara quando o lim, umha imagem em positivo dos seres humanos: karana procura inicialmente a vingança -contra aqueles que mataram seu irmão-, mas consegue dominar e superar esse sentimento; karana aprende a viver na natureza sem fazer dano aos outros animais e ela mesma decide deixar de matar para comer; e impressiona especialmente a capacidade da rapariga para apanhar-se só, para superar as dificuldades de nom ter amizades, família sem deixar-se levar polos acontecimentos...

e o que mais me surpreendeu foi saber que a história tem origem nuns feitos reais acontecidos a meados do século xix, quando um barco apanhou na ilha de são nicolau umha mulher que levava dezaoito anos a viver sozinha, após a fugida de todo o seu povo.

com vontade de ler mais deste autor...





sexta-feira, 9 de julho de 2010

ilhas: o senhor pip

lloyd jones: el señor pip. salamandra. barcelona 2008.

e ando em argalhar umha constelaçom literária centrada no tema da ilha. e chegou a mim, da mão da carlotina, o senhor pip, pequena obra mestra.

em bougainville, uma ilha tão perdida no pacífico que houvem de tirar de atlas para saber dela, uma menina e a sua mãe, aguardam a volta do pãe. a volta nom é possível pois há guerra civil e a ilha está isolada de maneira dupla. sós, com a única companhia dos rebeldes nas montanhas e um homem branco numa casa, passa-se o tempo na aldeia. até o homem branco decidir reabrir a escola para que as crianças nom perdam o tempo. na escola, como único meio pedágogico, som combinadas a leitura de grandes esperanças de charles dickens, e as conversas com os maiores da aldeia que explicam a meninos e meninas as cousas importantes que ham de saber da vida...

matilda, a protagonista, faz-se amiga de pip, o protagonista do livro dickensiano. mas é um amigo perigoso em tempos de guerra. tam perigoso que acabará por levar a violência às portas das casas.

fermosíssimo.



constelações literárias

guadalupe jover: un mundo por ler. educación, adolescentes y literatura. octaedro. barcelona 2007.

quando a formaçom dá resultados positivos, sempre é importante dizê-lo. neste caso, um curso de formaçom do professorado no cefore de ponte-vedra, deu-nos a possibilidade de conhecer guadalupe jover e as suas propostas didácticas. só por isso, pagou a pena.

mestres e mestras!, profes e profas! se tedes vontade de querer seguir tendo ganas de educar, havedes de ler este livro. porque da sua leitura sacas (eu saquei, outras compis sacárom) ganhas de provar estratégias novas, de seguir a intentar mudar o mundo, de seguir acreditando na educaçom como meio de libertaçom das pessoas, e sobretodo, pistas para saber por onde tirar.

un mundo por leer é umha obra dirigida a professorado de literatura. ainda assim, os primeiros capítulos, que definem a ideologia educativa da autora, som recomendáveis para qualquer docente (nom, para qualquer educador/a).

guadalupe jover propom modificar o cânone literário escolar para substitur o ensino da literatura pola educaçom literária. partindo disto faz umha proposta de trabalho partindo das constelações literárias, proposta que podemos encontrar desenvolvida neste outro texto disponhível na rede: constelaciones literarias. sentirse raro: miradas sobre la adolescencia.

umha de ideias andam a rondar nesta cabecinha... para isto deve servir a leitura.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

leituras demoradas: pensa nao

anxo angueira: pensa nao. edicións xerais. vigo 2000.

este foi lido antes do de almudena, mas ficou atrás. outro gosto para os sentidos. outro livro sobre a guerra civil. neste caso sobre a galiza rural prévia à guerra civil. essa galiza rural activa, sindicada, com ideias e inciativas que depois semelha que esquecemos.

situada en sernanselhe, que pretende ser um outro manselle, angueira passeianos pola aldeia nos messes prévios ao golpe de estado, utilizando como guia os labores estacionais e os trapos a navegar pola corrente do ulha.

do que mais gocei: da tentativa do autor de escrever numha língua diferente, é dizer, a da sua aldeia; dessa intençom, para mim conseguida, de passar a literária a língua da sua vizinhança. pode que porvezes dificulte a leitura (eu sei o que som as latas porque lho escuitei explicar ao próprio angueira), mas entrando no jogo de adivinhar significados de deixar-se levar por uma fala diferente, acaba por ser mui divertido.

um livro breve, contido e intenso.

coraçom gelado

almudena grandes: el corazón helado. ediciones tusquets. barcelona 2007.

gelada fum ficando eu enquanto avançava na leitura. por agora, para mim, um dos melhores textos que lim tratando o tema da guerra civil. impressionante.

impressiona também a enormidade do livro: um romance ao antigo estilo que ronda as novecentas páginas, e que levava messes tirando de mim desde a estante e puxando de mim desde a gordura. mas foi entrar nele e ficar enredada.

porque está mui bem construído. sobretodo isso. estám todos os capítulos tam bem engarçados, tam bem pesponteados, que vas lendo e lendo e lendo até caires na conta de que passaches da página quinhentos.

o romance nasce duma questom complexa: que farias ti de descobrires que a fortuna da tua família, da que levas goçando desde criança, nasceu do expólio a uma (outra e tua) família republicana? en volta desta pergunta vai avançando a trama, enriquecida com umha história de amor que simboliza umha vontade de futuro: a esperanza de superar aquela guerra, esa ditadura e este silêncio.

um dos elementos que mais destacaria é a construçom das personagens, o esforço por nom resultar maniqueia na sua elaboraçom, de maneira que acabas por nom poder evitar, por exemplo, que um falangista (eugénio) che caia bem; o bem descritas que estám as dúvidas e choques da família do protagonista ausente, essas reacçons encontradas de cada um/a dos fillos e fillas perante a descoberta da faceta cínica e criminal do pai perfecto. a poesía que há detrás de muitos dos parágrafos.

fiquei com vontade de ler algo mais desta mulher.

leituras demoradas: no pasarán!

vittorio giardino: las aventuras de max fridman: no pasarán! [I, II e III]. norma editorial. barcelona 2002.

vittorio giardino coloca-nos na barcelona resistente do ano 39. quando a guerra civil está prota a acabar, às portas da batalha do ebro, quando as forças internacionais ordeiam a retirada de todos os apoios estrangeiros, quando comunistas, anarquistas e socialistas andam já nas últimas leas, enfim, no começo do fim, max fridman viaja à cidade condal por localizar um amigo desaparecido depois de discutir com o seu superior no frente.

através dos três livros que componhem esta história, giardino achega-nos à intrahistória da guerra, essas luitas internas e esses abandonos exteriores que desfigeram o lado republicano, o bando defensor da liberdade.

gostei muito dos desenhos, dessa reconstruçom dos telhados e hotelinhos barceloneses. gostei muito também das três introduçons prévias que dam início a cada volume, em especial da primeira, na que giardino justifica a composiçom dos ábumes como umha homenagem ao seu avó, soldado na II guerra mundial.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

o caso do véu

rené pétillon: el caso del velo. norma editorial. barcelona 2006.

avisada de que não era tão divertido como o arquivo corso, deixei este para segundo prato. avisada de que não era tão bom, entrei nele sem grandes expectativas. e estas é o que tenhem, que se não as tes mui altas, gozas mais.

e gostei.

continua a utilizar a retranca e o ataque global para tratar, neste caso, o tema, muito de actualidade, da vestimenta das mulheres islâmicas e o seu direito a submeter-se ou não às normas pseudo-corânicas.

a história ajuda a conhecer um pouco mais as diversas versões sobre o tema e a ver que não tudo o islão é igual.

o arquivo corso

rené pétillon: el archivo corso. norma editorial. barcelona 2006.

muito rim com estes quadrinhos. um detective parisino tem que ir a córsega por localizar um senhor ao que fazer entrega duma carta. chegado lá descobre que tal homem é membro dum grupo terrorista que luita contra os franceses pola independência da ilha. isto leva-o de dificuldade em dificuldade, ora com os terroristas ora com a polícia.

embora pareça que polo tema tratado a cousa é séria ou difícil, pétillon nom deixa títere com cabeça e faz um humor disparatado (intencionadamente escolhido o verbo) e muito retranqueiro a conta de grupos terroristas, carácter corso e equipas policiais.

as primeiras cenas, e não sei por que, lembrárom-me a arousa e as particularidades carcamanas.

versão cinematográfica.


a doce envenenadora

arto paasilina: la dulce envenenadora. anagrama. madrid 2008.

reconciliação. embora continue a não gostar das traduções ao castelhano [que estranho que não me causem estranheza as galegas], não soubo igual este romance que o do ursinho.
aqui gozei com a má baba de paasilina de colocar a uma velhinha vítima da violência e a crueldade da mocidade actual, mártir sufridente de um sobrinho insuportável como mulher herdeira e defensora de militares nazistas, elitistas e tão crueis e isuportáveis como esse seu sobrinho.
como sempre, ninguém é tão bom e ninguém é assim tão mau.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

leituras demoradas: a condesa sanguenta

alejandra pizarnik: la condesa sangrienta. los libros del zorro rojo. barcelona 2009.

soubem da pizarrilho (vivam os bautismos!) atravês da madalena tembrás. entanto mirava por encontrar a sua poesia (dei com ela, mas nom tenho ainda corpo para lê-la), choquei com este livrinho que nom sei classificar: álbum? poema em prossa? história?.

conta-nos das maldades e crueldades de erzébet báthory, condesa sanguinolenta gostosa do sadismo e caçadora de beleza. nom sei se a fábula é real ou inventada pola alejandra. em qualquer caso, ela tenciona analisar e perceber quais podem ser as razons de erzébet para actuar como actua.

a obra é dura. e impressionantes som as ilustraçons de santiago caruso, que captam magistralmente a fusom de violência e fermosura que transmite o texto (chega observar a imagem da capa).

e tivo resultados poéticos...


bilbao-new york-bilbao

kirmen uribe: bilbao-new york-bilbao. xerais. vigo 2010.

durante um voo de bilbo a new york, o seu protagonista, ecritor, reflexiona sobre como construir o seu seguinte livro, que quer seja a história da sua família.

e isso é este romance: um memorando de capítulos, um gérmolo de histórias que conjuntadas dam a saga dumha família éuscara de marinheiros, a história da represom fascista em euscadi, a luita dumha cultura por seguir viva, etc...
a brincadeira do autor está em fazer do romance novela, é dizer, reduzir ao mínimo, à essência essenciosa todas as anedotas que qualquer autor decimónonico-realista viraría estensos capítulos, recolhendo longas descriçons, grandes diálogos, grandiloquente prossa.
aqui tudo é pequeno, teselas dum mosaico que, visto de longe, permite intuir o desenho, a mensagem.

chegando à poesia.

muito gostei.

e porfim umha portada de xerais da que também gosto!

a derradeira partida

didier comés: la última partida. norma editorial. barcelona 2007.

lim-no quase por compromiso. passou-mo carlota e nom soubem dizer que nom. porque o tema era a segunda guerra mundial e eu imaginei um cómic desses bélicos, com soldados luitando nas trincheiras e chefes planificando nos cuarteis.

o objectivo segue a ser o mesmo: transmitir o sem-senso da guerra a crueldade das batalhas e a utilizaçom de carne de canom que nada entende das causas últimas da sua presença numha trincheira.
mas o tratamento é diferente, introduzindo a fantasia e o humor, através dumhas aborrecidas pantasmas, necessitadas dum novo morto que lhes complete a partida de cartas, e uns corvos burlons e retranqueiros que comentam boa parte das cenas.

por isso me surpreendeu e gostei.

a princesa que nom quis final feliz

nunila lópez salamero e myriam caperos sierra: la cenicienta que no quería comer perdices. planeta. barcelona 2009.

a princesa é umha cinsenta actual. o final feliz é esse que disque tenhem sempre as mulheres: o casamento. mas esta princesa nom gosta nem dos saltos nos sapatos nem das perdizes para jantar, pois é vegetariana. o final feliz que vale para outras, é infeliz para ela.

e assim começa umha luita, nom contra o mundo, mas contra ela mesma e a su própria debilidade, a sua própria indecisom e a sua própria falta de estima. até que, com ajuda dumha b/vasta madrinha, consegue libertar-se do príncipe e inciar umha outra vida.

do livro para mim, o melhor, as ilustraçons, alternativas e que transmitem ledícia e optimismo. serve bem para trabalhar o sexismo nas aulas.

aqui, inteirinho:

a estranha desapariçom de esme lenoxx

maggie o'farrell. la extraña desaparición de esme lennox. salamandra. barcelona 2009.

umha maravilha em pequeninho. foi a selecçom de há duas sessons do clube de leitura. ninguém sabia dela. foi recomendaçom indirecta da livreira dumha das compis (que bom ter livreiros de cabeceira que saibam daquilo que vendem).

assim que entrei no livro sem muito convencimento. e já nom saim dele até acabá-lo.
a história é simples: iris, umha moça escocesa, recebe a petiçom de acolher a umha velha, após a clausura do hospital psiquiátrico no que a senhorinha, esme, leva sessenta anos internada. iris nada sabia da existência de tal mulher, que resulta ser a sua tia-avó, e decide fazer pesquisas para saber a causa do seu internamento e da sua ocultaçom por parte da própria família.

é certo que trata temas dos que gosto: as marginais, as diferentes, as mulheres tratadas de histéricas e loucas se nom seguem o caminho marcado, mas a razom pola que gostei tanto nom é essa.

o argumento dá para umha história contada linealmente, seguindo o esquema dos romances de intriga, até resolver o mistério. a isso ajudam os obstáculos, como a senilidade alzheimerosa da única pessoa, fóra a louca, que conhece a verdade, a avó de iris, kitty.
mas o que para mim fez do livro umha pequena joia, foi precisamente a maneira de contar. pequenos trechos que misturam passado e presente, a índia e escócia, as vozes de iris, esme e kitty, as vidas de cada umha delas. assim somos as pessoas que lemos, quem devemos reconstruir os factos e decidir que passou e que nom. jogo este último que deu fruto na sessom do clube, porque saírom visons variadas e finais diferentes...

quedei com vontade de ler mais desta mulher.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

laura e julio

juan josé millás: laura y julio. seix barral.barcelona 2006.

laura e julio som matrimónio de vida monótona e aborrecedora, tam afeitos a um e outra que nem se sentem na quotidiania. mas sempre há um feito que rebenta as borbulhas. neste caso é o acidente do vizinho, que os faz fazer-se cargo da sua casa e de localizar á família. desde esse momento toda a sua vida começa a se distorcer, igual à de antes, mas diferente, como reflectida num espelho côncavo ou convexo, tanto tem. a passagem atravês do espelho dá-a julio, que actua de narrador, um pobre alício que nom sabe bem se cruzou a um novo país das maravilhas ou a um mundo ao invês.
o estilo narrativo é o de millás tal qual. quem goste dele gostará dessas suas misturas de realidade e sonho, razom e fantasia, das suas brincadeiras linguísticas; mas também perderá parte da surpreesa do seu estilo, pois sai igualinho que o do opinador de imprensa.

o final, impactante por conformista (nos protagonistas, nom em quem escreve). que triste ver um mundo novo à frente e preferir a eterna mediocridade de sempre.

como a vida mesma.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

o melhor amigo do urso

arto paasilinna: el mejor amigo del oso. anagrama. barcelona 2009.

umha decepçom o amigo plastilina. o argumento inicial tinha chicha: um crego descreído odiado polo seu rabanho, a quem lhe é ofereceida umha cria de urso como presente de aniversário na paróquia.

o primeiro capítulo, para mim, é de antologia: é-nos contada a orfandade do ursinho (é dizer, como chegou a ela) mas desde o ponto de vista animal, nom humano.

mas quiçás por isso, aquilo que vém depois nom está à altura. resulta um livro mais chocalheiro que irónico, e as minhas preferências vam polo segundo. e isso que noutras obras é crível embora estranho ou inabitual, para mim, nesta, resulta pouco verosímil.

e nom sei, porque nom sei finés, se boa parte desse choque que anulou a minha implicaçom na obra, nom será cousa da traduçom, muito forçada para o meu gosto.

terça-feira, 20 de abril de 2010

a banda desenhada

will eisner: el cómic y el arte secuencial. norma editorial. barcelona 1988.

nota-se que no insti tivemos umha exposiçom sobre banda desenhada, porque abundam por aqui mostras do interesse polo tema. cristina, companheira por uns tempos na escola, deixou-nos claro: se queredes saber o básico sobre a banda desenhada, tedes que ler will eisner. e eu lim, e tenho que lhe dar toda a razom. expom, tam polo miúdo todos os pormenores técnicos, todos os truques de autor, todos os elementos que componhem um quadrinho, com uns exemplos tam claros e umhas argumentaçons tam evidentes que ao acabar a leitura podes ter-te por experta em cómic. e começas a ler banda desenhada com outra olhada.

e tivo resultados poéticos (que já conheceredes). que mais se pode pedir!


píldoras azuis

frederik peeters: píldoras azules. astiberri ediciones. donosti 2003.

umha maravilha. outra. semelha que ando à caça de quadrinhos comprometidos e que tratem temas profundos, mas nom é assim. chegam a mim por coincidências, casualidades e cousas que passam. neste caso o tema profundo a abordar é o da sida. e o autor fai-no dumha maneira directa, surpreendente, sincera e agradável. depois de lê-lo nom podes evitar sentir empatia com essa família tipicamente desestruturada à que acompanhamos até a decisom de começar o tratamento com essas pílulas azuis, os retrovirais.
neste caso, o protagonista, identificado com o autor, conhece umha moça, da que gosta, com a que se lia e com a que acaba enredando em algo mais que um par de encontros sexuais de fim de semana. e é entom quando ela lhe dá a má nova: nom é que tenha um filho pequeno doutra relaçom, mas que tanto ela como ele tenhem a sida. o que segue som as decisons da parelha, os seus medos, os seus sustos (esses preservativos!), os seus reparos e, sobretodo, o amor com que consiguem vencer os seus próprios prexuízos.

gorazde

joe sacco: gorazde. zona protegida. la guerra en bosnia oriental 1992-1995. planeta dagostini. barcelona 2001.

impecável este livro para fazer ver o horror das guerras civis, do abandono das vítimas por parte das potências ocidentais, capazes de olhar para outro lado, para o chão, para um muro qualquer, com tal de nom olhar a injustiça de frente, face a face. está ausente boa parte da ironia que protegia ao autor na sua crónica anterior (bem, a que eu lim antes), palestina. a ironia faz-se denecessária porque som as pessoas que sobrevivem em gorazde as que usam da retranca e a xorna para suportar o seu bloqueio. estruturada em capítulos, durante os que vamos conhecendo as pessoas às que acompanha joe sacco nas suas estadias na cidade bósnia, assistimos a um in crescendo de dureza e violência que tem o seu cume nas crónica do genocídio de srebrenica. aí crava-nos um punhal de autêntico narrador.

muito gostei, sim. mas é de ler aos poucos, para poder suportar certas humanidades.

a ilha dos cavaleiros

toni morrison: la isla de los caballeros. contemporánea debolsillo. barcelona 2004.

última leitura da toni e um pouco decepcionante. numha ilha do caribe, um rico americano comparte umhas férias indefinidas com a sum loira e nova mulher, a sua parelha de fideis e eternos criados (pretos, por suposto) e a sobrinha destes, acolhida quase como filha adoptiva. todo transcorre de maneira plácida, morna, em aguarda de que rebente a tronada. e esta dá-se com a chegada de um náufrago fugido nom se sabe de onde, com a identidade de nom se sabe quem. o único é que é um moço preto de físico imponhente e sexual. e a tronada rebenta.

a mim faltou-me tronada e sobrárom-me avisos.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Um sorriso, por favor.

jean rhys: una sonrisa, por favor. lumen. barcelona 2009.

lera desta mulher ancho mar de argaço, e gostara muito. vim um dia estas suas memórias na prateleira de couceiro e lá tirei de dinheiro e merquim o livro. vale a pena mas nom sei explciar por que. som umhas memorias atípicas por contidas. ao acabar a leitura mais curiosidade sinto por achegar-me à figura desta escritora e menos penso que a conheço. silencia muito mais daquilo que conta, ou isso semelha. e conta com a mesma austeridade um chá com um amigo como um aborto ou umha tempada depressiva.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

leituras demoradas: o acidente

jorge gomes miranda: o acidente. assirio e alvim. lisboa 2007.

conhecim este poemário por acidente. num curso de poesia em santander havia como actividade complementaria umha leitura pública deste poemário por parte do autor. lia em portugués e fazia umha segunda leitura em castelhano. assim pudem saborear cada poema duas vezes.
a essencia e o acidente. a essencia: o tema. um homem perde a mulher e vira viúvo enloitado. é portanto o poemário, um réquiem, umha elegia. o acidente: aquilo que nos envolta mas nom nos pertence; o ponto de vista.
eis a mestria deste texto. porque o eu poético nom é conformado polo homem que chora, polo homem a lamentar-se, pola dor do homem, mas polos objectos que acompanham ao home no seu dó. cada poema leva por título o nome comum do objecto familiar, caseiro, que observa exteriormente os restos da família desfeita por acidente: o copo, o telefone, as pinças da roupa (magistrais), o computador, a escrivaínha, o despertador... todos e cada um destes objectos mostram a soidade, a rendiçom, a derrota que umha morte pode causar na sua volta.
há tanta sobriedade na explicaçom da dor e do loito neste livro que devêm em magistral.
umha maravilha.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

leituras demoradas: sulinha

toni morrison: sula. contemporanea debolsillo. barcelona 2004.

quando lês um autor e enganchas nele, o melhor é seguir lendo para aproveitar o tirom, assim que depois de o olho mais azul, seguim com sula, umha novelinha que conta as vidas paralelas de duas amigas e a sua amizade. umha, nel, fica no arrabaldo em que se criaram, casada e criando filhos. outra, sula, vai-se embora e volta anos depois, autónoma, independiente e rachando molduras, costumes e o matrimónio da amiga.
mas afinal, depois da leitura, nom sabemos quem é a má, se há má nesta história, e isso é o melhor da narrativa, ser tam pouco dogmática e menos maniqueia do que pode parecer no avanço da leitura.
é a há umha personagem que é a inveja de qualquer narrador/a: a da mamá eva, a governar os eventos e a vida desde o seu quarto do terceiro andar.

leituras demoradas: os olhos de shirley

toni morrison: ojos azules. contemporanea debolsillo. barcelona 2004.

umha menina negra, feia, um pouco boba, deseja gorentosamente ter os olhos azuis de shirley temple. pensa que é por isso, por nom ter os olhos azuis das bonecas de cartom e da rapariga do cinema, que a sua vida nom é melhor.
este é o primeiro romance de toni morrison, de quem já lera beloved. é umha leitura que se leva mui bem, que lembra, aproveitando também as referências cinematográficas, essas películas em branco e preto que mostram a norteamérica de arrabal, a das traseiras das cuidadas casas e brancas e onde as mulheres tenhem a força, o trabalho e a injustiça impresas nas palmas das suas mãos.

leituras demoradas: paracuellos


carlos giménez: todo paracuellos. debolsillo. madrid 2007.

foi umha descoberta impressionante. impressionante. um livro tenro que faz chorar de duro que é. ou um livro duríssimo que faz rir de tenro que é.

o volume reúne todos os quadrinhos escritos por carlos giménez sob o título de paracuellos, que nom faz referência a nengum massacre na guerra civil [ideia pré-concebida que eu tinha e que demorou anos a leitura].
paracuellos envolve em um só lugar todos os fogares para órfãos criados polo auxílio social durante a ditadura franquista. e esses orfanatos som espaços pechados, clausurados, gélidos, podres, pobres e empobrecedores, como o era toda a sociedade da época. os meninos de paracuellos passam umha infância dura, cruel, mas a crueldade das histórias está em fazer-nos ver que fóra dos altos muros desses orfanatos, a vida nom era muito melhor.

leituras demoradas: lua lobeira

julio llamazares: luna de lobos. seix barral. barcelona 2006.

nom lera nada de julio llamazares, apesar da recomendadíssima por muita gente lluvia amarilla. lim este porque andava a buscar livros sobre a guerra civil para dar-lhe a ler ao meu alunado.
como eu gosto do tema da guerra e nom digo isso de outro livro mais sobre a guerra civil, lim-no com muito gosto. porque trata um tema que a mim me apaixona por desconhecido, por ignorado na história oficial, o dos maquis. todas essas pessoas que durante anos vivêrom agachadas nos montes, meio mortas meio vivas, fazendo filhos em escapadelas nocturnas, evitando o contacto com o resto do mundo, a sós na espesura e selváticos já nos costumes.
livro muito intenso. fermoso. e de léxico mui galego de tam leonês.

leituras demoradas: quem é nacionalista?

juan carlos moreno cabrera: el nacionalismo lingüístico. península. barcelona 2008.

andárom polo youtube duas conferências deste filólogo das que gostamos muito muitos galegos e algumhas filólogas hispânicas: era um madrilenho a defender a diversidade linguística das espanhas. quedei com vontade de ler-lhe algo mais sisudo, mais argumentado e mais profundo que essas palestras divulgativas.
e este era um dos livros a ler. de título provocador tam como o desenho da capa. porque esse nacionalismo linguístico do que fala [e parafrasseando xurxo souto, fala bem] nom é o nosso [e por estensom o euskaldum ou o catalám] mas o nacionalismo imperialista de certa escola filológica espanhola que impujo os seus prejuízos e os seus critérios de tratamento a grande parte da sociedade espanhola.
moreno cabrera centra-se no tratamento dado às línguas nativas americanas e ao andaluz para assertar a sua teoria, quiçás para afastar um pouco o discurso e sair-se da actualidade das polémicas autoanémicas actuais. a sua tese é que o nacionalismo linguístico espanhol utiliza a terminologia técnico-científica da linguística para disfarçar de neutralidade o seu posicionamento ideológico, em realidade etnocéntrico, hegemónico, elitista e espanholeiro. penso que, ao longo da leitura, a tese de moreno cabrera fica demostrada com claridade.



leituras demoradas. moscoscoia 2

wisława szymborska: aquí. bartleby editores. madrid 2009.

e como gostei tanto da moscoscoia, andei a procurar mais traduçons dela e um dia, há nada, entrevistárom-na no babélia porque os de bartleby [grande catálogo editorial, por certo] sacavam o seu último poemário.
comprei-no, lim-no e venceu-me. penso que simplesmente o poema que abre o volume e que titula o livro, vale por toda a obra completa de muito poeta que anda ceivo polo mundo, eu incluida.

leituras demoradas: lembranças

zeina abirached: me acuerdo beirut. traduçom: lucía bermúdez carballo. sinsentido. madrid 2008.

pequeno e delicioso álbume ilustrado no que a autora, ao modo de persépolis, lembra a sua neinice justo durante a guerra do líbano. em realidade nom sei se é banda desenhada ou um loooongo poema ilustrado. e gostei muito porque devemos ser de idades semelhantes e temos recordos parecidos, ela lá no beirute da guerra e eu cá, no fojo sem bombas nem bairros derruidos.

Leituras demoradas: a moscoscoia.

wisława szymborska: Paisaje con grano de arena. ana maría moix e jerzy wojciech slawomirski (tr.). lumen. barcelona 1997.

quem leia este blogue sabe já que quando me familiarizo e intimo com algum/ha autor/a, personalizo o seu nome para o fazer mais meu. esta mulher tam difícil de pronunciar para mim transformou-se na moscoscoia. que andas a ler, susana? buff, ando enganchada na moscoscoia. wisława chegou a mim atravês de marro, outra das minhas companheiras da escola [quem leia este blogue também pode cair na conta de que na minha escola há um grande viveiro de pessoas leitoras]. wisława chegou a mim atravês de marro e apaixonei. custou-me entrar nela porque a traduçom, inicialmente, fazia-se-me muito falsa: até tinha rima. e nom podia ser. como ia sair rimada umha traduçom do polonês ao castelhano?? mas umha vez que entrei no jogo, nom puidem sair dele. irónica, tenra, quotidiana, directa, profunda... a poesia de wisława vale, penso, incluso para aquelas pessoas que nom leiam muito deste gênero.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Leituras demoradas. as deusas.

jean shinoda bolen: las diosas de cada mujer: una nueva psicología femenina. kairós. barcelona 2002.

outra recomendaçom da minha colega carmen. leitura junguiana sem ter lido nunca jung. reviravolta feminista deste autor para fazer-nos descobrir às mulheres qual é o arquétipo, inspirado nas figuras de sete deusas gregas domina o nosso carácter. ameno e divertido, sobretodo se vas colocando deusas a cada mulher que conheces (eu vejo-me meio artemisa meio afrodita...). Seique tem umha segunda parte com mais arquétipos (e portanto mais matizes).

Leituras demoradas. café budapest


afonso zapico. café budapest. astiberri. bilbo 2008.

entrando-lhe á banda desenhada. umha delícia. a eterna história de amor entre pessoas de famílias rivais, de culturas diversas e o horror do genocídio nazista de fundo.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Leituras demoradas: silvinha.


silvia plath: poesia completa. ediciones bartleby. barcelona 2008.

outra das leituras demoradas e lentas destes últimos messes foi a poesia completa de silvia plath. e menuda edição a do galego xoan abeleira!
lim a silvinha desde a ignorância e o desconhecimento e, portanto, sem muitos prexuizos, o qual favoreceu a leitura. impressionou-me o seu domínio das imagens, das metáforas e, por suposto, o imenso mundo mítico que elaborou nos seus poemas. bufff!

precursora!

Leituras demoradas: correndo com lobas

clarissa pinkola estés: mujeres que corren con los lobos. ediciones b. madrid 2005.

levo messes sem fazer anotaçons neste blogue, o qual nom quer dizer que nom leia, simplesmente que nom anoto neste blogue. pensei em começar de novo e esquecer leituras que ficárom no caminho destes tempos, mas penso que vale a pena quando menos fazer memçom delas, para que este caderno nom perda o seu sentido inicial. quando houver tempo e vontade, acrescentarei comentários.

a grande leitura do inverno/verám/outono foi esta de clarissinha. A lentidom da leitura nom o foi por preguiça mas porque é um livro que require umha atençom demorada, um ler de vaca, ruminando cada capítulo. a estrutura, ademais, anima a fazê-lo assim.

mistura de psicologia, antropologia, literatura popular, mitologia, guia de auto-ajuda e poesia, este ensaio tem um único objectivo: definir que é umha mulher selvagem e aprender-nos [às mulheres que queiramos] o caminho para recuperar essa mulher-loba que levamos dentro.
depois de ler, eu quero.