sábado, 25 de dezembro de 2010

leituras demoradas: elisabeth costello.

j. m. coetzee: elisabeth costello. debolsillo. barcelona 2005.

fijo-se difícil de ler por lento, calmoso, mas nom polo que conta. eu quedei-me com aparte paródica do assunto é divertim-me muito.

elisabeth costello é umha escritora australiana de grande fama que adica o tempo a aceitar conferências e prémios que nunca devera ter aceitado. e acaba metendo-se me sarilhos porque nom pensa o que diz e diz o que pensa. e quase sempre pensa cousas incorrectas politicamente ou moralmente.

eu gostei muito dessa desolaçom e velha, dessa incapacidade da protagonista para luitar contra os elementos da vida para-literária: universidades, jornalistas, licéus e casinos.

o que menos; o epílogo, estava desejando acabar...

leituras demoradas: o pastel de pel de pataca

mary ann shaffer e annie barrows: la sociedad literaria y el pastel de piel de patata de guernsey. rba editores. madrid 2009.

quando menos o livro tinha um título curioso que provocava perguntas. para mim a primeira, onde é que está guernsey? e atadinhas a ela, as outras.

a historia trascorre na posguerra europeia, é dizer, na da segunda guerra mundial. e guernsey é uma pequena ilha de povoaçom inglesa na canle da mancha ocupada polos nazis. a protagonista do romance visita a ilha para escrever unha crónica sobre o seu clube de leitura. e dessa maneira sabe das misérias e fortunas ás que os ilhéus foram levados pola guerra.

no livro damos com um canto à literatura como forma de libertaçom pessoal, como refúgio perante à crudeza e dureza da quiotidiania, só que porvezes ronça o culebrom, com tantos amores e odios de por meio. e o recurso do gênero epistolar nom foi o mais acaído para o meu gosto.

mas, fora estas pexas, o livro é de boa leitura, e compensa com humor os horrores bélicos que conta, as situaçons extremas que se passaram na ilha. há personagens curiosas e divertidas, ainda que algumha excessivamente perfecta.

linda costureirinha chinesa

sijie dai: balzac y la joven costurera china. salamandra. barcelona 2001.

dous rapazes som enviados a "re-educar-se" a uma regiom perdida do tíbet na china comunista. no exílio interior deveram aprender a renunciar a qualquer resto de ocidentalismo que ressuma o seu corpo ou o seu cérebro ou nom voltarám nunca com as suas famílias. trabalharám com os labregos, nas minas, protagonizarám sessons colectivas de cinema narrado... e conhecerám á filha do xastre.

umha mala perdida que agocha romances da literatura europeia, sobre todo balzac, fará o seu retiro mais levadeiro. a idea dos rapazes nom é só ler e gozar lendo, mas aprender á costureirinha analfabeta a gozar da literatura.

consiguem-no. essa é a sua má sorte...

um livro mui bem escrito, de maneira singela, mas cheio de esconderijos dos que assomam segundas leituras. ressuma humor negro e retranca, com o que consigue compensar a dureza de muitas das situaçons narradas.

a mim tem-me um ar com este outro angolano que lim há tempos, mas igual é que as ditaduras do proletariado exigem as mesmas respostas literárias...

e há versom cinematográfica, do mesmo autor do livro:

outra ideia de galiza

miguel-anxo murado: otra idea de galicia. debate. barcelona 2008.

foi este livro proposta do clube de leitura de vila-garcia. já lera de murado o fim de século em palestina e gostara muito. e este, sendo mui diferente, nom me decepcionou.
diferente ou nom. a atitude do escritor penso que é a mesma: é quem de posicionar-se sem ambiguidades e ao mesmo tempo manter a atitude crítica. algo que admiro porque penso que sou incapaz de fazê-lo.

este ensaio está ideado para un destinatário concreto: o leitor nom-galego que quer conhecer galiza. mas a realidade (triste?) é que muitos galegos e galegas deveriamos lê-lo para aprendermos algo de nós mesmos. muitas das cousas que murado narra som desconhecidas para a maioria da povoaçom galega.

o livro parte da galiza geográfica e dumha figura exemplar: domingo fontám. aí já me ganhou o autor, pois o senhor fontam é para mim um ídolo recente. e é desde a geografia, desde a teoria de que galiza tem já umha paisagem separatista, que murado vai construindo todos os capítulos, aparentemente centrados num tema (a história, a política, a economía, a língua...), mais pesponteados por todos os outros.

O livro procura mais que desmontar tópicos, mostrar a sua fonte, levar-nos á sua origem da mao, num passeio por séculos de história, que se faz ameno e descansado. para mim foi incrível a capacidade do autor para seleccionar aqueles elementos que melhor explicam as ideias (falsas, verídicas) de galiza que polo mundo circulam.

o interessante, para mim, é que nom comparto todas as visons nem todos os pontos de vista do autor, precisamente nuns temas que me tocam muito de cerca e nos que, porvezes, viro visceral. e, sabendo isto, o saibo da leitura é muito grato, e do que dá vontade é de falar e debater, que foi provavelmente a ideia do autor. o livro nom desmerece o nome da editora: umha galiza para o debate.


Leituras demoradas: ulises no mar de cor de vinho

giovanni nucci: las aventuras de ulises. ilustraçons de chiara carrer. siruela. madrid 2009.

andava a buscar livros que tratasem o tema da mitologia para propor a súa leitura ao meu alunado de primeiro da eso. e dei com esta excelentíssima versom das aventuras de ulises.

uma das cousas que mais me amedam de dar a ler clássicos ao alunado som os valores (para mim contra-valores) que muitas vezes estes clássicos defendem, nomeadamente a violência e o sexismo. todo isto tem a mitologia grecolatina.

e justo isto trabalha giovanni nucci na sua versom. o narrador desta versom de ulises é como um velhete que lhe está a contar a história ao seu neto, introduzindo, mais que os seus comentários, o seu tom de retranca. desta maneira contrarresta esses valores que se dam na história original, com humor e piscadelas que fam pensar ao leitor e cuestionar que o que digam os clássicos vai a missa.

o livro nom conta ademais, só a história de ulises porque, para achegar-nos a ela, narra outros episódios da mitologia que dam pé a novas leituras. e todo isto, com um estilo muito cuidado e a imagem do mar cor de vinho unificando todos os capítulos.

a desavantagem: o preço. nom foi livro de leitura obrigada nas minhas aulas porque nom tenho a cara de pedir-lhe ao alunado que gaste 19 euracos num livro. nom digo que nom o valha, mas custa muito.

duas mulheres em praga

juan josé millás: dos mujeres en praga. espasa-calpe. madrid 2002.

nom aprendo. nom há maneira. sempre me acontece o mesmo com millás. como habitualmente gosto muito e me divirto com os seus artigos de opiniom, penso que os seus romances ou contos vam ser igual.
e esse é o problema. os seus romances som iguais que os artigos e nom passam o crivo. nom resistem a leitura atenta. ficam na superficialidade, na bricandeira, muitas vezes, como neste caso, trabalhada, mas simples brincadeira.
os temas som os de sempre: a vida insulsa quotidiana, o duplo ou o gémeo, a fantasia ocultando a realidade...
fijo-me graça, e rim; mas aguardava mais.

leituras demoradas: eu tinha umha casa em áfrica.

isak dinesen: memorias de áfrica. alfaguara blosillo. madrid.

outro filme que sempre gostei de ver uma e outra vez foi memórias de áfrica, do sidney pollack. este, mais que vontade de ler a obra original, deixou-me vontade de ler qualquer cousa da sua autora.
o curioso é que o livro começa igual que a película, com essa mesma primeira e famosa frasse: eu tinha uma casa em áfrica, ao sopé das colinas do ngong. partindo de aí, já nada é igual, ainda que sim, todo é igual, na essência. O filme recolhe e fabula um único capítulo dos cinco que tem o livro, mas inserta pormenores e anedotas esparegidos polo resto da narrativa. desta maneira, a leitura oferece-se-nos totalmente diferente á visom cinematográfica, mas sem traiçons.
surprende a visom da áfrica dumha mulher dançando de contínuo entre a visom colonialista e imperialista, muito paternalista, lindando o racismo, e o respeito ás culturas indígenas e a funda curiosidade por elas. cada capítulo dá-nos umha de cal e umha de areia.

vontade de entrar-lhe aos contos góticos.

leituras demoradas: perigosas amizades.


pierre choderlos de laclos: las amistades peligrosas. alianza editorial. barcelona 2004.

sempre gostei do filme de stephen frears e daquela imensa interpretaçom de glenn close. e sempre tivem vontade de ler o livro, por isso de comparar as versons. neste caso as comparaçons penso que nom som odiosas. estranhamente, ia pasando páginas e visualizando as cenas mas com a sensaçom de que essas eram as imagens que correspondiam áquilo que lia.
muito mais destrutivo o fim do romance que o do filme...