domingo, 21 de fevereiro de 2010

leituras demoradas: o acidente

jorge gomes miranda: o acidente. assirio e alvim. lisboa 2007.

conhecim este poemário por acidente. num curso de poesia em santander havia como actividade complementaria umha leitura pública deste poemário por parte do autor. lia em portugués e fazia umha segunda leitura em castelhano. assim pudem saborear cada poema duas vezes.
a essencia e o acidente. a essencia: o tema. um homem perde a mulher e vira viúvo enloitado. é portanto o poemário, um réquiem, umha elegia. o acidente: aquilo que nos envolta mas nom nos pertence; o ponto de vista.
eis a mestria deste texto. porque o eu poético nom é conformado polo homem que chora, polo homem a lamentar-se, pola dor do homem, mas polos objectos que acompanham ao home no seu dó. cada poema leva por título o nome comum do objecto familiar, caseiro, que observa exteriormente os restos da família desfeita por acidente: o copo, o telefone, as pinças da roupa (magistrais), o computador, a escrivaínha, o despertador... todos e cada um destes objectos mostram a soidade, a rendiçom, a derrota que umha morte pode causar na sua volta.
há tanta sobriedade na explicaçom da dor e do loito neste livro que devêm em magistral.
umha maravilha.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

leituras demoradas: sulinha

toni morrison: sula. contemporanea debolsillo. barcelona 2004.

quando lês um autor e enganchas nele, o melhor é seguir lendo para aproveitar o tirom, assim que depois de o olho mais azul, seguim com sula, umha novelinha que conta as vidas paralelas de duas amigas e a sua amizade. umha, nel, fica no arrabaldo em que se criaram, casada e criando filhos. outra, sula, vai-se embora e volta anos depois, autónoma, independiente e rachando molduras, costumes e o matrimónio da amiga.
mas afinal, depois da leitura, nom sabemos quem é a má, se há má nesta história, e isso é o melhor da narrativa, ser tam pouco dogmática e menos maniqueia do que pode parecer no avanço da leitura.
é a há umha personagem que é a inveja de qualquer narrador/a: a da mamá eva, a governar os eventos e a vida desde o seu quarto do terceiro andar.

leituras demoradas: os olhos de shirley

toni morrison: ojos azules. contemporanea debolsillo. barcelona 2004.

umha menina negra, feia, um pouco boba, deseja gorentosamente ter os olhos azuis de shirley temple. pensa que é por isso, por nom ter os olhos azuis das bonecas de cartom e da rapariga do cinema, que a sua vida nom é melhor.
este é o primeiro romance de toni morrison, de quem já lera beloved. é umha leitura que se leva mui bem, que lembra, aproveitando também as referências cinematográficas, essas películas em branco e preto que mostram a norteamérica de arrabal, a das traseiras das cuidadas casas e brancas e onde as mulheres tenhem a força, o trabalho e a injustiça impresas nas palmas das suas mãos.

leituras demoradas: paracuellos


carlos giménez: todo paracuellos. debolsillo. madrid 2007.

foi umha descoberta impressionante. impressionante. um livro tenro que faz chorar de duro que é. ou um livro duríssimo que faz rir de tenro que é.

o volume reúne todos os quadrinhos escritos por carlos giménez sob o título de paracuellos, que nom faz referência a nengum massacre na guerra civil [ideia pré-concebida que eu tinha e que demorou anos a leitura].
paracuellos envolve em um só lugar todos os fogares para órfãos criados polo auxílio social durante a ditadura franquista. e esses orfanatos som espaços pechados, clausurados, gélidos, podres, pobres e empobrecedores, como o era toda a sociedade da época. os meninos de paracuellos passam umha infância dura, cruel, mas a crueldade das histórias está em fazer-nos ver que fóra dos altos muros desses orfanatos, a vida nom era muito melhor.

leituras demoradas: lua lobeira

julio llamazares: luna de lobos. seix barral. barcelona 2006.

nom lera nada de julio llamazares, apesar da recomendadíssima por muita gente lluvia amarilla. lim este porque andava a buscar livros sobre a guerra civil para dar-lhe a ler ao meu alunado.
como eu gosto do tema da guerra e nom digo isso de outro livro mais sobre a guerra civil, lim-no com muito gosto. porque trata um tema que a mim me apaixona por desconhecido, por ignorado na história oficial, o dos maquis. todas essas pessoas que durante anos vivêrom agachadas nos montes, meio mortas meio vivas, fazendo filhos em escapadelas nocturnas, evitando o contacto com o resto do mundo, a sós na espesura e selváticos já nos costumes.
livro muito intenso. fermoso. e de léxico mui galego de tam leonês.

leituras demoradas: quem é nacionalista?

juan carlos moreno cabrera: el nacionalismo lingüístico. península. barcelona 2008.

andárom polo youtube duas conferências deste filólogo das que gostamos muito muitos galegos e algumhas filólogas hispânicas: era um madrilenho a defender a diversidade linguística das espanhas. quedei com vontade de ler-lhe algo mais sisudo, mais argumentado e mais profundo que essas palestras divulgativas.
e este era um dos livros a ler. de título provocador tam como o desenho da capa. porque esse nacionalismo linguístico do que fala [e parafrasseando xurxo souto, fala bem] nom é o nosso [e por estensom o euskaldum ou o catalám] mas o nacionalismo imperialista de certa escola filológica espanhola que impujo os seus prejuízos e os seus critérios de tratamento a grande parte da sociedade espanhola.
moreno cabrera centra-se no tratamento dado às línguas nativas americanas e ao andaluz para assertar a sua teoria, quiçás para afastar um pouco o discurso e sair-se da actualidade das polémicas autoanémicas actuais. a sua tese é que o nacionalismo linguístico espanhol utiliza a terminologia técnico-científica da linguística para disfarçar de neutralidade o seu posicionamento ideológico, em realidade etnocéntrico, hegemónico, elitista e espanholeiro. penso que, ao longo da leitura, a tese de moreno cabrera fica demostrada com claridade.



leituras demoradas. moscoscoia 2

wisława szymborska: aquí. bartleby editores. madrid 2009.

e como gostei tanto da moscoscoia, andei a procurar mais traduçons dela e um dia, há nada, entrevistárom-na no babélia porque os de bartleby [grande catálogo editorial, por certo] sacavam o seu último poemário.
comprei-no, lim-no e venceu-me. penso que simplesmente o poema que abre o volume e que titula o livro, vale por toda a obra completa de muito poeta que anda ceivo polo mundo, eu incluida.

leituras demoradas: lembranças

zeina abirached: me acuerdo beirut. traduçom: lucía bermúdez carballo. sinsentido. madrid 2008.

pequeno e delicioso álbume ilustrado no que a autora, ao modo de persépolis, lembra a sua neinice justo durante a guerra do líbano. em realidade nom sei se é banda desenhada ou um loooongo poema ilustrado. e gostei muito porque devemos ser de idades semelhantes e temos recordos parecidos, ela lá no beirute da guerra e eu cá, no fojo sem bombas nem bairros derruidos.

Leituras demoradas: a moscoscoia.

wisława szymborska: Paisaje con grano de arena. ana maría moix e jerzy wojciech slawomirski (tr.). lumen. barcelona 1997.

quem leia este blogue sabe já que quando me familiarizo e intimo com algum/ha autor/a, personalizo o seu nome para o fazer mais meu. esta mulher tam difícil de pronunciar para mim transformou-se na moscoscoia. que andas a ler, susana? buff, ando enganchada na moscoscoia. wisława chegou a mim atravês de marro, outra das minhas companheiras da escola [quem leia este blogue também pode cair na conta de que na minha escola há um grande viveiro de pessoas leitoras]. wisława chegou a mim atravês de marro e apaixonei. custou-me entrar nela porque a traduçom, inicialmente, fazia-se-me muito falsa: até tinha rima. e nom podia ser. como ia sair rimada umha traduçom do polonês ao castelhano?? mas umha vez que entrei no jogo, nom puidem sair dele. irónica, tenra, quotidiana, directa, profunda... a poesia de wisława vale, penso, incluso para aquelas pessoas que nom leiam muito deste gênero.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Leituras demoradas. as deusas.

jean shinoda bolen: las diosas de cada mujer: una nueva psicología femenina. kairós. barcelona 2002.

outra recomendaçom da minha colega carmen. leitura junguiana sem ter lido nunca jung. reviravolta feminista deste autor para fazer-nos descobrir às mulheres qual é o arquétipo, inspirado nas figuras de sete deusas gregas domina o nosso carácter. ameno e divertido, sobretodo se vas colocando deusas a cada mulher que conheces (eu vejo-me meio artemisa meio afrodita...). Seique tem umha segunda parte com mais arquétipos (e portanto mais matizes).

Leituras demoradas. café budapest


afonso zapico. café budapest. astiberri. bilbo 2008.

entrando-lhe á banda desenhada. umha delícia. a eterna história de amor entre pessoas de famílias rivais, de culturas diversas e o horror do genocídio nazista de fundo.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Leituras demoradas: silvinha.


silvia plath: poesia completa. ediciones bartleby. barcelona 2008.

outra das leituras demoradas e lentas destes últimos messes foi a poesia completa de silvia plath. e menuda edição a do galego xoan abeleira!
lim a silvinha desde a ignorância e o desconhecimento e, portanto, sem muitos prexuizos, o qual favoreceu a leitura. impressionou-me o seu domínio das imagens, das metáforas e, por suposto, o imenso mundo mítico que elaborou nos seus poemas. bufff!

precursora!

Leituras demoradas: correndo com lobas

clarissa pinkola estés: mujeres que corren con los lobos. ediciones b. madrid 2005.

levo messes sem fazer anotaçons neste blogue, o qual nom quer dizer que nom leia, simplesmente que nom anoto neste blogue. pensei em começar de novo e esquecer leituras que ficárom no caminho destes tempos, mas penso que vale a pena quando menos fazer memçom delas, para que este caderno nom perda o seu sentido inicial. quando houver tempo e vontade, acrescentarei comentários.

a grande leitura do inverno/verám/outono foi esta de clarissinha. A lentidom da leitura nom o foi por preguiça mas porque é um livro que require umha atençom demorada, um ler de vaca, ruminando cada capítulo. a estrutura, ademais, anima a fazê-lo assim.

mistura de psicologia, antropologia, literatura popular, mitologia, guia de auto-ajuda e poesia, este ensaio tem um único objectivo: definir que é umha mulher selvagem e aprender-nos [às mulheres que queiramos] o caminho para recuperar essa mulher-loba que levamos dentro.
depois de ler, eu quero.