quarta-feira, 2 de abril de 2008

mais um dia com vida

ryszard kapuscinski: un día más con vida. editorial anagrama. barcelona 2003.

ainda que nos envolva um oceano de mal, sempre emergerám dele ilhotes verdes e férteis. podem ser vistos, eis os estám, no horizonte.

ando a ler, aos poucos, a obra completa de kapuscinski. e por agora, esta crónica resultou-me ser a mais impressionante.
tenho por costume respeitar a forma original dos nomes das pessoas -fora questons ortográficas liosas, como esses tildes consonânticos do apelido- mas neste caso é o próprio autor quem se galeguiza. ricardo instalou-se em luanda três messes antes da independência de angola [novembro de 1975] para poder narrar todo o processo. ao começo parece fazer-nos um embrulho mental com as siglas dos exércitos, os seus dirigentes e os seus apoios diversos. mas penso que é um embrulho intencionado, que pretende pór em destaque o sem sentido dumha guerra na que nem sequer os uniformes dos inimigos som diferentes uns dos outros.
kapuscinski acompanha-nos num passeio por toda a angola, desde a capital sitiada, isolada, despovoada e sem água até vários dos frentes de luita. é um passeio nom por agradável -algumhas das situaçons testemunhadas som realmente duras- mas porque a sensaçom que tes como leitora é a de visualizar com exactitude todo aquilo que nos apresenta.
umha das passagens das que mais gostei foi descriçom da cidade em caixas: luanda recolhida e embalada em caixas de madeira por todos os colonos que pretendiam levar enseres e móveis na sua fugida cara o brasil ou portugal... ou aquela em que narra a volta desde pereira de eça, atravessando o mesmo frente de guerra, para poder chegar a luanda e poder transmitir a entrada na guerra do exército sudafricano. a narraçom consegue que leamos tensionados toda a passagem, compartindo o perigo com o jornalista e os seus camaradas.
um elemento que me agradou da obra foi o feito de posicionar-se claramente o autor: ele esta com o mpla. se durante a sua estância no país actuou profissionalmente mantendo certa equidistância, na crónica pessoal claramente se coloca do lado do movimento popular. e podemos compreendê-lo ao lermos a última parte da obra, em que kapuscinski elabora um ressumo histórico-político da situaçom angolana desde a ocupaçom portuguesa: o mpla é o único dos movimento de independência que nom segue princípios étnicos/racistas.
enfim, livro mui recomendável para quem queira saber de angola, de guerras e de soidades sem deixar de sentir.

outras obras que já lim de kapuscinski:
ébano
a guerra do fútebol