sexta-feira, 28 de maio de 2010

o caso do véu

rené pétillon: el caso del velo. norma editorial. barcelona 2006.

avisada de que não era tão divertido como o arquivo corso, deixei este para segundo prato. avisada de que não era tão bom, entrei nele sem grandes expectativas. e estas é o que tenhem, que se não as tes mui altas, gozas mais.

e gostei.

continua a utilizar a retranca e o ataque global para tratar, neste caso, o tema, muito de actualidade, da vestimenta das mulheres islâmicas e o seu direito a submeter-se ou não às normas pseudo-corânicas.

a história ajuda a conhecer um pouco mais as diversas versões sobre o tema e a ver que não tudo o islão é igual.

o arquivo corso

rené pétillon: el archivo corso. norma editorial. barcelona 2006.

muito rim com estes quadrinhos. um detective parisino tem que ir a córsega por localizar um senhor ao que fazer entrega duma carta. chegado lá descobre que tal homem é membro dum grupo terrorista que luita contra os franceses pola independência da ilha. isto leva-o de dificuldade em dificuldade, ora com os terroristas ora com a polícia.

embora pareça que polo tema tratado a cousa é séria ou difícil, pétillon nom deixa títere com cabeça e faz um humor disparatado (intencionadamente escolhido o verbo) e muito retranqueiro a conta de grupos terroristas, carácter corso e equipas policiais.

as primeiras cenas, e não sei por que, lembrárom-me a arousa e as particularidades carcamanas.

versão cinematográfica.


a doce envenenadora

arto paasilina: la dulce envenenadora. anagrama. madrid 2008.

reconciliação. embora continue a não gostar das traduções ao castelhano [que estranho que não me causem estranheza as galegas], não soubo igual este romance que o do ursinho.
aqui gozei com a má baba de paasilina de colocar a uma velhinha vítima da violência e a crueldade da mocidade actual, mártir sufridente de um sobrinho insuportável como mulher herdeira e defensora de militares nazistas, elitistas e tão crueis e isuportáveis como esse seu sobrinho.
como sempre, ninguém é tão bom e ninguém é assim tão mau.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

leituras demoradas: a condesa sanguenta

alejandra pizarnik: la condesa sangrienta. los libros del zorro rojo. barcelona 2009.

soubem da pizarrilho (vivam os bautismos!) atravês da madalena tembrás. entanto mirava por encontrar a sua poesia (dei com ela, mas nom tenho ainda corpo para lê-la), choquei com este livrinho que nom sei classificar: álbum? poema em prossa? história?.

conta-nos das maldades e crueldades de erzébet báthory, condesa sanguinolenta gostosa do sadismo e caçadora de beleza. nom sei se a fábula é real ou inventada pola alejandra. em qualquer caso, ela tenciona analisar e perceber quais podem ser as razons de erzébet para actuar como actua.

a obra é dura. e impressionantes som as ilustraçons de santiago caruso, que captam magistralmente a fusom de violência e fermosura que transmite o texto (chega observar a imagem da capa).

e tivo resultados poéticos...


bilbao-new york-bilbao

kirmen uribe: bilbao-new york-bilbao. xerais. vigo 2010.

durante um voo de bilbo a new york, o seu protagonista, ecritor, reflexiona sobre como construir o seu seguinte livro, que quer seja a história da sua família.

e isso é este romance: um memorando de capítulos, um gérmolo de histórias que conjuntadas dam a saga dumha família éuscara de marinheiros, a história da represom fascista em euscadi, a luita dumha cultura por seguir viva, etc...
a brincadeira do autor está em fazer do romance novela, é dizer, reduzir ao mínimo, à essência essenciosa todas as anedotas que qualquer autor decimónonico-realista viraría estensos capítulos, recolhendo longas descriçons, grandes diálogos, grandiloquente prossa.
aqui tudo é pequeno, teselas dum mosaico que, visto de longe, permite intuir o desenho, a mensagem.

chegando à poesia.

muito gostei.

e porfim umha portada de xerais da que também gosto!

a derradeira partida

didier comés: la última partida. norma editorial. barcelona 2007.

lim-no quase por compromiso. passou-mo carlota e nom soubem dizer que nom. porque o tema era a segunda guerra mundial e eu imaginei um cómic desses bélicos, com soldados luitando nas trincheiras e chefes planificando nos cuarteis.

o objectivo segue a ser o mesmo: transmitir o sem-senso da guerra a crueldade das batalhas e a utilizaçom de carne de canom que nada entende das causas últimas da sua presença numha trincheira.
mas o tratamento é diferente, introduzindo a fantasia e o humor, através dumhas aborrecidas pantasmas, necessitadas dum novo morto que lhes complete a partida de cartas, e uns corvos burlons e retranqueiros que comentam boa parte das cenas.

por isso me surpreendeu e gostei.

a princesa que nom quis final feliz

nunila lópez salamero e myriam caperos sierra: la cenicienta que no quería comer perdices. planeta. barcelona 2009.

a princesa é umha cinsenta actual. o final feliz é esse que disque tenhem sempre as mulheres: o casamento. mas esta princesa nom gosta nem dos saltos nos sapatos nem das perdizes para jantar, pois é vegetariana. o final feliz que vale para outras, é infeliz para ela.

e assim começa umha luita, nom contra o mundo, mas contra ela mesma e a su própria debilidade, a sua própria indecisom e a sua própria falta de estima. até que, com ajuda dumha b/vasta madrinha, consegue libertar-se do príncipe e inciar umha outra vida.

do livro para mim, o melhor, as ilustraçons, alternativas e que transmitem ledícia e optimismo. serve bem para trabalhar o sexismo nas aulas.

aqui, inteirinho:

a estranha desapariçom de esme lenoxx

maggie o'farrell. la extraña desaparición de esme lennox. salamandra. barcelona 2009.

umha maravilha em pequeninho. foi a selecçom de há duas sessons do clube de leitura. ninguém sabia dela. foi recomendaçom indirecta da livreira dumha das compis (que bom ter livreiros de cabeceira que saibam daquilo que vendem).

assim que entrei no livro sem muito convencimento. e já nom saim dele até acabá-lo.
a história é simples: iris, umha moça escocesa, recebe a petiçom de acolher a umha velha, após a clausura do hospital psiquiátrico no que a senhorinha, esme, leva sessenta anos internada. iris nada sabia da existência de tal mulher, que resulta ser a sua tia-avó, e decide fazer pesquisas para saber a causa do seu internamento e da sua ocultaçom por parte da própria família.

é certo que trata temas dos que gosto: as marginais, as diferentes, as mulheres tratadas de histéricas e loucas se nom seguem o caminho marcado, mas a razom pola que gostei tanto nom é essa.

o argumento dá para umha história contada linealmente, seguindo o esquema dos romances de intriga, até resolver o mistério. a isso ajudam os obstáculos, como a senilidade alzheimerosa da única pessoa, fóra a louca, que conhece a verdade, a avó de iris, kitty.
mas o que para mim fez do livro umha pequena joia, foi precisamente a maneira de contar. pequenos trechos que misturam passado e presente, a índia e escócia, as vozes de iris, esme e kitty, as vidas de cada umha delas. assim somos as pessoas que lemos, quem devemos reconstruir os factos e decidir que passou e que nom. jogo este último que deu fruto na sessom do clube, porque saírom visons variadas e finais diferentes...

quedei com vontade de ler mais desta mulher.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

laura e julio

juan josé millás: laura y julio. seix barral.barcelona 2006.

laura e julio som matrimónio de vida monótona e aborrecedora, tam afeitos a um e outra que nem se sentem na quotidiania. mas sempre há um feito que rebenta as borbulhas. neste caso é o acidente do vizinho, que os faz fazer-se cargo da sua casa e de localizar á família. desde esse momento toda a sua vida começa a se distorcer, igual à de antes, mas diferente, como reflectida num espelho côncavo ou convexo, tanto tem. a passagem atravês do espelho dá-a julio, que actua de narrador, um pobre alício que nom sabe bem se cruzou a um novo país das maravilhas ou a um mundo ao invês.
o estilo narrativo é o de millás tal qual. quem goste dele gostará dessas suas misturas de realidade e sonho, razom e fantasia, das suas brincadeiras linguísticas; mas também perderá parte da surpreesa do seu estilo, pois sai igualinho que o do opinador de imprensa.

o final, impactante por conformista (nos protagonistas, nom em quem escreve). que triste ver um mundo novo à frente e preferir a eterna mediocridade de sempre.

como a vida mesma.