quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

ano novo em palestina

miguel anxo murado: fin de século en palestina. editorial galaxia. vigo 2008.

polas bilhas de gaza city corre a água salgada do mar.

venho de ler a crónica de hoje do correspondente en palestina do elpaís. e nada era novo. todo era repetido, como umha salmódia, um desses cánticos religiosos que inculcam a fé a força de repeti-la. o que conta o jornalista hoje vem sendo um eco de todo o que conta miguel anxo murado na sua crónica. eis a actualidade da leitura dumha obra que narra factos acontecidos há quase dez anos. como bem diz o autor, palestina tem um problema com as coordenadas espaço-temporáis e semelha que desde há 200o anos repite cada nada a mesma história de dor e violência.
nom sei se murado contava com que a actualidade internacional ponheria no topo de leituras recomendadas a sua obra. tenho para mim que era consciente de que en qualquer momento um novo estourido violento a faria interessante. porque combinando a leitura do seu livro com as crónicas diárias nos jornais, acaba umha por ter umha visom tristemente clara da situaçom no oriente próximo. e da dificuldade dumha saída pacífica para o conflicto. ao final, fica umha desarmada. sem alento. sem vontade para pensar em positivo.
miguel anxo murado fai-nos chegar, através da sua narrativa, a visom que ele tem do conflito após ter vivido em jerusalém por cinco anos, dous como trabalhador da onu, três como jornalista. entanto crónica que é, estamos perante a olhada subjectiva dumha pessoa. carga com ela os seus conhecimentos, prejuíços, experiências e aprendizagens, conformando apartir deles um mosaico que bem pode ser a palestina actual, ou nom.
a crónica combina, penso que adequadamente, várias tipologias textuais [descriçom, narrativa histórica, argumentaçom...] que fam a leitura entretida e rápida. podemos encontrar, acarom de trechos duros, violentos, outros trechos de carácter muito humorístico. o autor tenciona reflectir esse ambiente estranho dos lugares onde a guerra acontece: umha mistura de vida normal e quotidiana com violências extraordinárias que chega a resultar ridícula, como o feito de um comércio no bairro mais castigado polas bombas-suicidas leve por nome tnt. mas provavelmente a vida nos lugares em guerra seja assim, umha bomba bang e dez minutos depois crianças a brincar entre os cascalhos.
gostei muito dos capítulos dedicados a explicar como é a cidade de jerusalém, os seus bairros diferentes, as suas religions, os seus costumes; e muito mais da crónica dessa viagem a gaza para entrevistar aos responsáveis de hamas e da jihad islámica.
quedo com umha reflexom que fai o autor, que comparto e que, por isso mesmo, penso que faz difícil dar soluçom ao conflito:

a violência é como umha religiom, um estado mental, e os seus crentes atribuem-lhe o poder de mudar o mundo. nisto nom eram mui diferentes os solitários mártires de hamas, raparigos tímidos que se faziam voar em autobuses, e os militares que os combatiam: todos acreditavam nesse poder mágico da violência para mudar a realidade.

e o mais duro para umha pessoa sensível, ver que é quem de afazer-se ao horror: quando a explosom de umha nova bomba me fez acordar o dia dos inocentes, simplesmente mudei de posiçom e seguim a dormir, como se se tratase dalgumha inocentada de deus, dalgum dos três deuses de jerusalém... para isso serve a crónica de miguel anxo murado, para que nom nos afagamos à indiferença. um arremesso de pedra escrita nas nossas consciências.