quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

namorados desertores

mario regueira: tanxerina. espiral maior. a corunha 2006.

as palmeiras oscilam como o sono ao que renunciamos. e no brilho dos olhos mentimo-nos amizade e exílio.

o grupo duns amigos, dezapal, tem umha cançom que musica um poema de álvaro cunqueiro. umha cançom que soa como os poemas de mario regueira em tangerina. quando menos para mim.
comecei a lê-lo e resultava-me familiar, lenemente familiar, mas por quê? polas lonas da jaima do cunqueiro, essas que cheiram a menta. e seguim lendo e dei em pensar. porque a segunda parte do poemário leva por nome rick's café, numha clara referência ao filme casablanca. eu nom lembro, confeso, um visionado consciente dessa película, só algum retalho de quando nena. eis a reviravolta da leitura: a mim evoca-me um texto e umha música que o autor nom declara conhecer e aquilo que ele reclama eu desconheço...
e mais cousas evocam a leitura: aquela visita a gorée e à porta sem retorno onde um homem enorme fazia o esforço de cruzar a pontelha e falar-nos dos seus mortos, aqueles soldados pretos, indígenas diziam-lhes, que luitavam por brancas causas e coloniais, a kabília e as suas ressistências, e todo adubado no azul da pele tuaregue. provavelmente de nada disso queria escrever o poeta, mas é o que eu lim.
se no poema de cunqueiro alguém canta umha cançom do norte, aqui o poeta escreve umha crónica do sul, a crónica do sonho renunciado, a crónica dos que perdêrom umha guerra. e ainda que envolta no exotismo do deserto, os minaretes, os xamans e as cerimónias do chá, nada há mais achegado e menos afastado que o desejo de passar umha pontinha e visitar aos próprios mortos.

Nenhum comentário: