domingo, 30 de novembro de 2008

cultivos transgênicos

carlos negro: cultivos transxénicos. instituto de estudos miñoranos e entidade local de morgadáns. gondomar 2008.

onde nada acontece até que chegue otro enterro.

sinto-me identificada com os mundos que retrata carlos negro, porque som os mundos en que eu me criei. reflicte ele, nos seus textos, com as suas palavras, inquedanças mui semelhantes às minhas, ditas quiçás com outras palavras.
carlos negro conta nos seus poemas do rural galego, da galiza interior, mas nom dessa galiza de turismo rural e casa de rústico estilo. nom. fotografa com versos a galiza que desaparece. a abandonada, a esquecida. a baldeira. e sim. sim que retrata essa galiza de turismo rural e casa de rústico estilo. essa galiza que se amortalha em modernidade aparente para simular o cheiro da morte. a que já nem dói de tanto que se ignora.

porque também eu sinto umha úlcera textual que me desangra, gosto dos poemas de carlos negro, que denunciam o tránsito feroz de labregos a consumidores.

outros livros que lim de carlos negro:
far-west
héleris

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

caçando trolls

luis seixido: o cazador de trolls. sotelo blanco edicións. compostela 2001.

o caçador de trolls nom é um romance, mas umha novela, um conto longo. toda a trama esta bem sintetizada no título: vai de um caçador que anda à caça de trolls. a estrutura da obra é bem simples também: umha primeira parte dedicada ao caçador, racamonde; umha segunda parte dedicada aos trolls, e umha terceira na que é narrado o encontro violento: a caçaria.
mas por detrás desta aparente simpleza bate umha reflexom mais profunda. ainda que para mim certas técnicas utilizadas polo autor nom estám mui logradas [o uso do estilo indirecto livre nom acaba de convencer], nom evitam que a trama esté bem construída e que faga reflexionar.
porque esta novelinha mostra como muitas vezes o pedrador é quem nom o parece e que os monstros tenhem comportamentos mais humanizados que muitas pessoas.
na primeira parte conhecemos racamonde, caçador, autêntico predador, que se move pola fraga igual que um lobo, um urso, um raposo. por suposto, junta ele mais experiência, força e astúcia que esses três animais em conjunto. e menos respecto com a vida: até os lobos, vemos na obras, tratam com dignidade aos seus inimigos dentro da manada. racamonde encontra provas da existência de trolls na fraga do rei e decide sair na sua busca, para espanto de toda a povoaçom, dada a fama demoníaca de tais engendros.
na segunda parte conhecemos os trolls, representados por Vento Morno e a sua família, dedicados por completo a viver e deixar viver, aproveitando os recursos do bosque ,mas sempre colaborando para o seu cuidado, e mantedores de umha bençom mágica que os ajuda a sobreviver: o dom.
o dom será o elemento mágico que lhe dê sentido ao final da história e que enfatize o lugar de cadaquém na escala de valores que o autor nos quer ajudar a construir.
eis o romance: aproveitando elementos da narraçom oral o autor constrói um discurso que ajuda a reflexionar sobre o papel dos seres humanos com respecto aos outros animais seique menos racionais e perante a natureza em geral. o autor acerta ao situar a história num tempo indefinido, mas num espaço reconhecido: eu vim-me na devesa da rogueira, no courel.
isso sim, o final nom deixa muito espaço para a esperança...

ah, e penso que o desenho da capa do livro desmerece o conteúdo do mesmo. eu nom o teria colhido para ler.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

a pensom eva

andrea camilleri: a pensión eva. traduçom de carlos acevedo. galaxia 2006.

nené quer entrar na pensom eva, templo sagrado, centro de peregrinaçom masculina, manancial de mocidade, rito iniciático. mas nom pode entrar até os 18 anos, a menos que faga trampas. entretanto conhece o seu corpo e o seu entorno, joga a médicos com a curmá, olha revistas que nom deve, [des]informa-se entre amigos sobre a filosofia última da vida.
este romance, ou melhor novela, leva-nos da mao de nené até a cidade siciliana de vigatà. começada a leitura, semelha que o narrador nos vai passeiar polas aventuras da adolescência, o despertar do sexo, os primeiros encontros, numha viagem leve e lixeira, quase idealizada.

mas de súbito, umha bomba bong.

e faz apariçom a guerra, o fascismo, a violência, rebentando a vida nos mercados.

é certo que a visom do bordel [ou!, estripei parte da trama: a pensom eva é um bordel] está idealizada, com madamas tenras e prostitutas ora puritanas ora comunistas, mas eu gostei da evoluçom que fam as personagens protagonistas: se ao começo nené só pensa em chegar à maioria de idade para ir de putas, acaba por esquecer tal pretensom depois de conhecer, nom às putas em geral, mas as mulheres concretas que se vendem na pensom.
o tratamento da religiom divertiu-me muito. há duas histórias deliciosas: a do neno visitado polo espírito santo e a da puta que viu cair um anjo do céu.
de leitura ligeira, rápida, nom me deixou o regosto a banalidade que semelhava proporcionar ao primeiro bocado.