sexta-feira, 28 de março de 2008

minho

franciso x. fernández naval: miño. espiral maior poesía. a acoruña 2007.


Agora sei. non hai horizonte nin retorno, tan só o vapor das pedras.

de francisco fernandez naval tinha lido un poemario, mar de lira, preciosamente acompanhado de fotografias de maribel longueira, que também acompanhou um outro poemário do que gostei imenso, o papagaio de luisa villalta. tenho no andel dos livros pendentes um dias de cera ao que ainda nom lhe entrei.
gostei deste minho, ainda que penso que me decepcionou algo, pois mar de lira me deixara un intenso bom sabor de boca. vê-se nisto o que influem os momentos de leitura na recepçom dumha obra, pois aquele poemário o lim depois de ter vivido em muros e de ter limpado chapapote nesse mesmo mar de lira. com o rio minho nom tenho essa relaçom empática.
minho nom é umha viagem a ourense, nem ao rio, mas à infância, à neinice do eu poético, que vai rehabitando espaços, momentos, pessoas, acompanhando-se do rumor do rio, porvezes perto, porvezes ao longe, porvezes gorgulhando nele directamente, e sempre presente. mas a viagem à neinice está feita desde o presente, tirando lecçons da vida vivida, recolocando pormenores na paisagem, percebendo o despercebido outrora. em muitos casos testemunhando a decepçom.

sexta-feira, 21 de março de 2008

querer ser deus


etgar keret: o condutor de autobús que quería ser deus. rinoceronte editora. cangas 2006. traduçom de moncho iglesias míguez.

dous dias depois de suicidar-me atopei trabalho aqui numha pizzaria que se chama Kamikaze e que pertence a umha grande cadeia. assim começa a segunda parte desta obra e penso que assim se define toda ela: surpresa, humor e irreverência.
o livro está dividido em duas partes, ou nom. no começo encontramo-nos com quatro contos curtos para seguir com umha novela, um conto longo, ao que dá início a frase que inaugura este comentário. para mim é esta novelinha, a colónia de vacaçons de kneller, o melhor do livro. muito rim.
depois de ler o orientalismo de said, veu-me bem gorgulhar-me na obra de um autor israeli. porque depois de ler sobre imagens e topicadas sobre o oriente, hei de admitir que a minha ideia geral do israel está filtrada pola situaçom da palestina. porvezes esqueço que provavelmente israel seja algo mais que judeus ultraortodoxos hiperarmados, igual que esqueço que nos usa tem que haver um outro mundo que nom representa bush.
ler este livrinho desperta os sentidos e fai-nos ver a heterogeneidade das sociedades. e fai-me lembrar umha cousa que nos dixo a salma quando falamos com ela: que lá onde há opresom há gente a luitar contra ela. neste caso poderia-se dizer que lá onde há fanatismo religioso há pessoas a desmitificar a importância da religiom. assim, os soldados israelís que se suicidam durante o serviço militar compartem espaço des-terrenal com os terroristas suicidas árabes: a ironia nom pode ser mais grande.
deus e a religiom som nomeados de contínuo nos contos de keret, mas os cabritos nunca aparecem. como na vida.

quinta-feira, 20 de março de 2008

orientalismo



edward w. said: orientalismo. editorial debate. madrid 2002.

para umha pessoa que nunca viu oriente, disse nerval umha vez a gautier, um loto sempre será um loto: para mim é só umha espécie de cebola

orientalismo é umha monografia de quase 500 páginas. por vezes se me fijo dura de digerir, nom pola ser hermética a linguagem usada por said, todo o contrário, mas porque o seu mundo de referências nom é o meu. todos os autores que utilizou como base da sua análise som para mim desconhecidos, ou eles em si, ou as obras concretas que analisa [no caso de flauvert, nerval...] e isso enredava um pouco o caminho.
nom assim a clareza expositiva do autor. pois, apesar dessa minha dificuldade dei em ler todo o livro e penso que percebim aquilo que said queria transmitir.
orientalismo trata da representaçom do oriente no ocidente, concretamente nas culturas francesa e británica. mas o interessante da obra nom é isso. poderia ter sido umha nómina de tópicos e ideias prefixadas sobre o oriental com exemplos procurados na literatura, na história, ciência: porém, said vai além desta ideia, daí o rompedora que foi esta obra no seu momento. três elementos destacaria de orientalismo, para tomar nota de cara as minhas pesquisas:
  • primeiro: said nom trata de antologizar umha ideia equivocada do oriente contrastável com a realidade tangível de oriente; precisamente o que ele defende é que nom pode haver imagens reais do oriente porque todas e qualquer delas som isso, imagens, representaçons, construçons que podem ter que ver com a realidade e podem nom ter que ver.
  • segundo: demostra como umha determinada imagem de oriente foi construida e utilizada polo imperialismo para fazer o seu labor de apropiaçom e colonizaçom de territórios reais, com a consciente e explícita colaboraçom dos intelectuais do campo. se nebrija dizia que a língua era companheira do império, said afirma que o orientalismo é cúmplice do imperialismo.
  • terceiro: faz umha reflexom-crítica sobre os males que o positivismo e o cientifismo figérom à humanidade. o orientalismo revestiu boa parte das suas teorias mais discriminatórias e racistas com umha pátina de cientificidade que as figêrom parecer verdade indiscutível, e que difcultárom a luita contra elas -pensemos no darwinismo aplicado às culturas.
a ediçom que eu lim é do ano 2002, o qual é umha sorte, pois conta também com um epílogo [de 1997] do próprio autor no que este revisa a recepçom que a obra tivo no momento da sua primeira publicaçom [1977].

quinta-feira, 13 de março de 2008

ghats


manuel martínez: ghats. candeia editora. compostela 2007.

ghats é um livro de viagens. mas um livro um algo diferente. porque nom fala com palavras mas com imagens.
nom percebim o título quando o vim. supugem já de entrada que seria um vocábulo hindi, e dei por feito que era explicado no interior do volume, em algum dos textos [de antón lopo, anxos sumai, xerardo fernández e roberto ribao] que o acompanham. e nom. eis o interesse da obra. porque é um livro que nom resolve perguntas, mas que interroga sem dar respostas.
ghats reflicte umha viagem à índia. mais em concreto à cidade de varanasi, à beira do rio ganga. a cidade que aparece nas fotos nom é cidade santa nem a cidade turística, nem sequer é a cidade: som as pessoas que a habitam, melhor todos os seres, pessoas e animais: mulheres, homens, crianças, vacas, cabujas... todas a fazer a sua vida e quase sempre com os ghats ausentes, fora do foco da cámara, como a morte.
fermosos os textos. gostei em especial do de anxos sumai.
eu, que levava uns messes a procurar um livro de viagens que me contasse da índia desde outros olhos diversos dos meus, pois foi a minha viagem deste verám passado, acabei por dar com ele na minha língua e numha pequena editora galega.

quinta-feira, 6 de março de 2008

o livro negro do colonialismo


marc ferro [dir]: El libro negro del Colonialismo. la esfera de los libros. madrid 2o05.

o livro negro do colonialismo é umha obra colectiva. umha equipa de historiadores/as revisa a história do colonialismo desde o século XVI até a actualidade, parando em etapas conhecidas [o imperialismo ibérico, a trata de escravos e a escravatura, a ocupaçom europeia de áfrica...] e outras que nom o som tanto, quando menos para mim.
afeita como estou ao eurocentrismo vim, com esta obra, que este nos afecta para bem e para mal. neste caso, tanto foi falado e estudado o colonialismo europeu, que muitas de nós desconhecemos outros colonialismos que tenhem operado no mundo mas aos que nom atendemos porque só nós podemos ser os maus, ou porque temos en tam pouca consideraçom o outro que nem sequer consideramos a possibilidade de que também pode fazer animaladas. Ler um pouco sobre as acçons colonialistas da rússia ou japom, ajuda a compreender que o do colonialismo é um fenómeno de grande alcanço e, por desgrácia, nom exclusivamente ocidental.
a obra está dividida em cinco partes, todas elas bem interessantes:
  • O extermínio, onde som revisadas as políticas de destruçom da povoaçom caribenha, indio-americana e aborígem da austrália. O capítulo adicado a este último grupo pareceu-me impressionante, sobretodo porque ainda hoje o estado australiano [e a povoaçom maioritária] semelha nom aceitar a história e negar a sua responsabilidade.
  • A trata e a escravatura, onde se faz un percorrido sobre este fenómeno, achegando-nos também as prácticas de escravatura anteriores à descoberta americana.
  • Dominaçons e ressistências, em que se fam achegas aos processos coloniais em diversos pontos do planeta e com protagonistas diversos [colonizadores e colonizados]. A mim chamárom-me muito a atençom os capítulos adicados à índia, indochina e ao apartheid sudafricano, mas penso que mais pola minha ignorância prévia que porque destaquem em qualidade sobre o resto.
  • A sorte das mulheres, capítulo adicado em exclusiva às sempre esquecidas.
  • Representaçons e discursos, onde som revisados os discursos e contradiscursos edificados en volta do colonialismo, tanto na história e na literatura como na cançom ou no cinema. aqui faltou-me quiçás um pequeno percorrido pola imagem, pola plástica. faltam-me na obra mapas, fotos, debujos, quadros, que há muitos, e mui significativos.
Com se pode comprovar, a obra é ampla e completa, abordando muitos elementos e ofrecendo-nos algo máis que umha visom única e exclusiva.
Eu comprara o livro interessada em conhecer melhor os colonialismos ibéricos e as suas características, mas fum-me deixando levar e, com tempo, uns messes, dei em ler a monografia completa [som quase mil páginas].

terça-feira, 4 de março de 2008

território da desapariçom



miguel anxo fernán vello: territorio da desaparición. editorial galaxia. vigo 2004.

às minhas chegadas aos livros som do mais variadas. nom lera nada de fernán vello. no último implícate participou. recitou um poema, melhor, falou um poema que a mim me deixou impressionada: os repatriados. na seguinte visita a couceiro procurei em todos os volumes do poeta até dar com o texto. formava parte deste território da dessapariçom, que ainda venho de ler agora.
muitos som os poemas que tenho marcados com um pregue na folha: esta é a resistencia, o duro amor; a casa abandonada, casa deserta, retorno do exiliado, discurso parlamentar do pobres... já polos títulos vê-se qual é a tendência do poemário e desta leitora: poesia política, poesía de intervençom.
esse território da desapariçom é concebido como este outro território em que vivemos, onde as casas e as aldeas som abandonadas e as ortigas o ocupam todo, onde é a hora do implacável negócio, dos grandes patrocínios, onde aquilo que se descompóm é a esperança.
nesse espaço, bem identificável para mim, aparece a poesia, a palavra, como única possibilidade de memória, e portanto, de futuro.
há dous poemas que penso logram tal identificaçom: o titulado bóveda e o titulado arquitectos. no primeiro, elegia a alexandre bóveda, joga com o apelido e a importância das abóbadas na construçom dum edifício, dumha casa, dumha pátria. no segundo identifica o ofício da arquitectura com o das poetas, entanto pessoas construtoras dessa mesma pátria-casa.
o difícil para alguém coma mim, que ademais de ler escreve, e ver reflectidos temas [teimas] que também me interessam, recorrendo ao mesmo imaginário [o território, a casa] e aceitar que outros o fam infinitamente melhor, com dúzias de versos para apontar e apontalar os muros da casa.