segunda-feira, 25 de julho de 2011

leituras demoradas: demasiado silêncio

manuel rivas. todo é silencio. xerais. vigo 2010.

lim-no bem. há obras (narrativas) do rivas que nom dei acabado. assim que esse lim-no bem tem umha conotaçom muito positiva. sim, lê-se bem. mas...
o malo maloso de todo é silencio é un narco galego. nas suas atitudes, na maneira em que constrói a sua personagem (ele na sociedade, nom o autor na obra) é umha mistura perfecta de duas pessoas reais que eu conheço: um narco já falecido e um empresário de pro, os dous do meu concelho (para quem conheçades coma mim, mistura de t******* e s***). juro que o que nom tem de um tem-no do outro, sejam acenos, estilos ou anedotas que, certas ou nom, sim som tomadas como tais pola vizinhança. em troca, o malo maloso do romance nom acabo de crer-mo. semelha demasiado caricaturesco. porque a verossimilitude narrativa nada tem que ver com a realidade. e é como se o rivas porvezes o esquecera.
ademais disso, penso que é um romance incompleto. nom sei se tinha medo doutro oslivrosardemmal (e nom devera) volumoso e enorme. mas a sensaçom que me quedou quando acabei a leitura foi um já?.

leituras demoradas: leite derramado.

chico buarque. leite derramado. dom quixote. lisboa 2009.

quando gostas muito de um artista nom aguardas muito dele noutra faceta. a mim acontece-me isso com aqueles que sendo destacados noutra cousa, se metem a escritores. e claro, eu sempre gostei muito muitíssimo do chico buarque sambista. e nunca me deu por ler-lhe livros, porque teve ademais a ousadia de nom pretender-se poeta (casa bem com o papel de letrista cantor) mas narrador. e eu dizia-me, cai-me demasiado bem para arriscar umha decepçom. 
e cheguei a leite derramado. tem razom o crítico da ligaçom anterior em que tem um argumento conhecido, e recorre a umhas técnicas pouco originais e nada inovadoras. e que? eu descobrim um bom, muito bom, escritor. fiquei des-decepcionada e só por isso recomendo a todo o mundo esta novelinha.
fum quem de acreditar na verdade tropical do protagonista, aceitando que seja caricaturesco ou típico. e fum quem de seguir a leitura com vontade de saber em que acabava e sem sabê-lo afinal muito bem. 

sábado, 23 de julho de 2011

emaús

alessandro baricco: emaús. anagrama. barcelona 2011.

foi um presente de aniversário bem jeitoso. o senhor baricco luze-se neste romance. 
nele situa-se nos anos 60-70, numha cidade italiana que eu associei ao norte, e conta as aventuras de um grupo de quatro adolescentes. católicos. muito católicos. obsessionados com a culpa, o pecado, o sexo e as mulheres, como nom podia ser menos.
um desses quatro adolescentes exerce de narrador e penso que é aí onde acerta o autor, na forma que dá a essa voz ainda crente meio descrida ciente dos feitos negadora dos mesmos. utiliza em muitas ocasiões um nós intolerante que ao tempo que apavora faz ver, meridianamente, a força que a educaçom católico-capadora exerce sobre os protagonistas. 
os moços estám, cada um na sua medida, obnubilados com a figura dumha rapariga, de costumes totalmente diferentes aos próprios, umha madalena que uns querem namorar e outros (os mesmos?) reconduzir ao bom caminho. porque eles som católicos e pensam assim.
penso que neste caso os feitos som o de menos. o interesse está nas reflexons de narrador e personagens, no bem que reflictem como nascem, crescem, se reproduzem e ocultam as suas dúvidas religiosas e como aceitam sem duvidar moralmente a hipocrisia da sociedade na que vivem.
romance muito bom. 

noite de alacráns

alfredo gómez-cerdá: noche de alacranes.ediciones sm. madrid 2005.

outro romance sobre a guerra civil!! e outro mais do que gostei! se me pilha um destes anti-história... neste caso a protagonista é umha velha que é convidada por un profe de instituto para dar umha palestra ao seu alunado. pede-lhe que dê conta das suas experiências como guerrilheira fugida aos montes durante a guerra civil. a noite anterior á cita no centro de ensino, a velha, insone, faz repasso da sua vida. 
para mim o melhor do romance está na protagonista e na sua história: temos ante nós umha velha crível, que semelha nom mentir contando a sua experiência. e semelha nom mentir porque nom narra feitos heroicos, nom. tal como conta a sua adolescência percebemos melhor o sem-sentido da guerra: pois muitas das suas vítimas o som polas circustâncias que vivem, nom porque esteam ideologicamente marcadas. temos ante nós umha rapariga de 15 anos que se vê assediada polos fascistas sem saber por que, que desconhece em que anda a sua família, que namora do inimigo, sem saber que o é (é-o?) e que acaba na guerrilha clandestina por amor a esse inimigo, nom por solidariedade com a causa. mas é precisamente esta vitimizaçom injusta a que acaba por espertar-lhe a consciência ideologica...
e tudo isto mui bem contado...

idades, cidades e divindades

mia couto: idades cidades divindades. caminho editora. lisboa 2007

mia couto é conheido pola sua narrativa, sendo sempre destacado como contador de histórias. mas eu fiquei atrapada com este livro de poemas.
masculino de noiva é navio
só por este verso vale a pena. destila toda a arte de mia couto: brincar com as palavras quotidianas da língua até transformá-las e outorgar-lhe nom novos significados, mas significados míticos que tinhamos esquecido. adorei. gostaria de fazer algum dia algo semelhante com este meu português chamado galego. 
os poemas bebem da tradiçom oral, popular; muitos deles buscam dar estilo ás vozes populares moçambicanas e misturam isto com a reflexom vital que roça a filosofia, se é possível desligar umha cousa da outra:

O outro idioma 
Inquirido
sobre a sua fluência
em português, respondeu:

- Tenho duas línguas:
uma para mentir,

outra para ser enganado.
A professora
ainda perguntou:
- E qual delas é o português?

- Já não me lembro, respondeu.