sábado, 29 de janeiro de 2011

leituras demoradas: as vozes do deserto

marlo morgan: las voces del desierto. zeta bolsillo. barcelona 2009.

charo recomendou-me (e regalou-me) este livro para aquela constelaçom sobre ilhas. nom fala dumha ilha autêntica, mas dumha metafórica: o deserto australiano.

o livro é a crónica dumha viagem inesperada ao duro outback. marlo morgan acompanha umha tribo aborigem, provavelmente das que ficam incontaminadas polo progresso numha peregrinaçom através do deserto australiano. nessa viagem tem acesso aos conhecimentos, a concepçom do universo e da vida, á filosofia e a relaçom com a natureza dessa gente. umha gente impressionante, claro.

as vozes do deserto som as vozes dos aborigens, que elegem umha médica americana como portavoz perante o mundo ocidental, tecnológico. ela é a narradora desta história que nos faz chegar como testemunho dumha experiência transformadora por iniciática.

muitas das experiências narradas tenhem esse tom metafísico-patafísico dos gurus alternativos, mas ao mesmo tempo desejas que todo o narrado tenha acontecido na realidade porque desejas poder acreditar que esses aborigens som tam sábios e tenhem tam claras as cousas. em realidade, aquilo que narra esta mulher é umha utopia perdida num deserto, algo semelhante ao que narra, noutro sentido, o tuaregue de vázquez figueroa.

contra o vento

ángeles caso: contra el viento. editorial planeta. barcelona 2010.

nom estám na minha listagem anual de leituras os prémios planeta. mais bem é ao contrário. podem-me os prejuíços e tenho por costume nom atender-lhe.

mas caiu nas minhas mãos este contra el viento, porque fala também da áfrica, fala de mulher(es) em luita, fala de lisboa e fala de cabo verde. e dei em lê-lo. e contra os meus próprios prejuíços, gostei, ainda que a autora o tinha fácil depois da decepçom anterior.

o que mais agradecim foi a perspectiva da narradora. eu contava com umha história lineal, contada pola pseudo-autora-protagonista e centrada na personagem de são. mas resultou que para chegar a são 8que é a prota) antes tivem que conhecer a todas as mulheres que en volta de são andaram, saber das suas histórias anônimas, através dumha contadora de contos mui achegada aos narradores de tradiçom oral.

quero suponher que a autora faz aqui umha homenagem a essa capacidade contadora de quem lhe fez chegar a história. suponho. e isso conseguiu-no.

tam-pouco tem muito mais o livro. quero dizer que se lê bem, tem umha trama que atrapa, e dá para entreter algumhas tardes de chuva e frio, como estas que temos.

domingo, 9 de janeiro de 2011

tuaregue

alberto vázquez figueroa: tuareg. debolsillo. barcelona 2003.

outro romance com o deserto de fundo. mas este sim me entrou bem adentro e gozei-no imensamente.

um tuaregue que vive entre as areias do sara com a sua família recebe umha noite a dous viageiros perdidos. ao dia seguinte, o exército entra no acampamento mata a um dos homens e leva o outro pola força. ao tuaregue nom lhe queda outra que vingar esses atentados á lei do deserto, pois a sua honra vai na protecçom que nom soubo dar aos seus hóspedes.

começa assim, para nós leitoras, umha viagem polo deserto do sara, pola vida nómade dos tuaregues, as suas normas, as suas leis e a sua filosofia de vida. o livro lê-se como um velho western, onde sabes que o protagonista é o último dumha estirpe adaptada por séculos a viver num e dum dos climas mais estremos do planeta.

o romance envolve-nos com umha trama sedutora, na que sempre pensas que o protagonista vai ser vencido e na que este sempre te surprende com as soluçons que encontra. umha vida acorde com a natureza, condenada, por suposto, a desaparecer. como o tuaregue.

e o final, para mim, flipante. un autêntico romance de aventuras.

sábado, 8 de janeiro de 2011

o tempo entre costuras

maría dueñas: el tiempo entre costuras. temas de hoy. madrid 2009.

o livro tinha ingredientes que o faziam interessante aos meus olhos. protagonista feminina costureira. guerra civil e ditadura de fundo. outros espaços, neste caso, o norte de áfrica. o colonialismo e as suas ervas... mais nom.

nom gostei. lim-no a seguir, porque tem umha trama que engancha e fai que queiras avançar, mas nom metida nela, senom na distância. em realidade, apetece ler como quem vê umha batalha campal desde o alto, sem ter interesse em adentrar-se na história.

sira quiroga é umha rapariga madrilenha, subitamente rica graças a um pai recém-aparecido, á que um embaucador leva ao protetorado espanhol em marrocos com a escusa de investir a fortuna dela e fugir dos perigos da iminente guerra civil. mas o homem foge á argentina como todo o dinheiro deixando sira sozinha, prenhada e cumha dívida impagável no hotel. protegida polo comisário da cidade e ajudada por umha estraperlista, decide adicar-se á alta costura para juntar dinheiro e libertar-se da déveda. assim entra en contacto com as ricas alemás e británicas refugiadas em tetuám. e sabe dos seus segredos.

o que para mim falha no romance é a figura narrativa. a própria protagonista narra a sua história em primeira pessoa. num tom culto e elevado, carregado de rico vocabulário, de conhecimentos históricos e políticos que em nada quadram com a costureirinha protagonista. penso que nom está bem justificada essa consciência tam clara de todo por parte de narradora, por muito que saibamos que é sira com anos e experiências por cima.
também nom entrárom tantas justificaçons histórico-políticas polo meio da trama. nom é normal que rosalinda powell fox, para contar a sua história de amor com um senhor, tenha que degranar no mesmo discurso, todos os cargos políticos dele e todos os seus contactos e conhecidos no bando de franco. nom pinta nada.

por outra banda a narradora abusa da candidez aparente dos leitores. passa as páginas recordando o extraordinário das suas aventuras. eu penso que chega com que as conte. se som extraordinárias ou nom, já o decidimos nós. fartei da frasezinha "e quem me diria a mim, umha simple e ignorante costureira de um bairro de madrid, que ia... o que fosse".

ademais, e já para acabar, toma aos leitores por parvos: mais de três veces tem a necessidade de explicar-nos, por exemplo, a origem do seu segundo nome, arish agoriuq, bastante transparente em si mesmo.

enfim, que lim mas nom gostei.

por certo, o tocho de seiscentas páxinas que eu estava a ler em papel, andava a minha cunhada a lê-lo num finíssimo e ligeirinho e-book. agradeceram-lho os braços.