terça-feira, 23 de dezembro de 2008

festina lente

marcos s. calveiro: festina lente. ed. xerais. vigo 2007.

correndo amodo ou apurando devagar. assim deve ser lido este romance. porque onde a trama anima a seguir e nom parar, o léxico encoraja e leva ao dicionário, se umha tem por costume acompanhar-se dele na leitura [nom é o meu caso]. eu lim-no às pressas porque havia encontro com o autor e deixei-me de consultas lexicográficas e tirei para diante e conseguim embeber-me do galego antigo, complexo, latinizado que ressumavam os parágrafos do livro.
porque um dos logros do romance, ao meu ver, é esse de acompassar o estilo da escritura à época em que situa a história: os séculos XV e XVI. cuidado: nom afirmo que esse fosse o galego da época, que quem sabe, mas que o estilo fica o suficientemente afastado da língua actual como para conseguir um efecto de estranhamento no leitor que ajuda a colocar-se no passado.
festina lente conta a história de um artesám compostelám, ambrósio cavaleiro, encadernador, que vive fechado no seu pequeno obradoiro da rua d'almada alheio a todo quanto nom seja o maravilhoso mundo dos livros. um quixote louco sem vontade para sair ao mundo a defender doncelas em perigo ou vassalos maltratados.
outro dos interesses do romance está na época que retrata: essa compostela pre-barroca, séculos escuros que nem o fórom tanto. reclama o autor, revivendo-a, umha parte da história galega nom por desconhecida e ignorada menos interessante. essa em que a galiza nom chegava ao mundo através de madri mas através dos seus mares. e o mundo à galiza. por certo, no blogue do livro, há posts que ajudam a situar a trama histórica e geográficamente.
a tacha para mim nom é a que ponhem outras, sendo esse um debate proveitoso, mas que nom encontro bem reflectido o processo de isolamento e crescente misantropia do protagonista. durante o romance vemos como chega a compostela de neno quase adolescente e como acaba morrendo, anos e anos depois. porém, o facto de que acabe só e abandonando-se do mundo no seu obradoiro nom acaba de ser bem percebido. nom sei se será causada esta impressom por ter sido o texto resultado da reduçom de um outro mais estenso, mas a sensaçom eis a está.
o melhor: ver a fala dos canteiros convertida em mistério a resolver, em manuscrito envelenado, como aquele do nome da rosa.

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