o antílope odeia menos ao homem que o distingue
que àquele que delata a sua presença
que àquele que delata a sua presença
há viagens curiosas. livros que caem nas maos quando ham de cair.
soubera de ngugi wa thiong'o através da leitura de ferro. buscando a negritude e os seus autores dei com este menino mau: criticou senghor e os seus seguidores por escrever na língua e nos modos dos europeus e construir o seu modelo de negritude como reverso positivo da negrura branca. como prova da súa rebeldia, renunciou à língua inglesa e decidiu escrever só em kikuyu.
por suposto, quando lim tal história assumim que nunca poderia ler ngugi wa thiong'o. quem traduziria do kikuyu para algumha das línguas que podo ler...
qual a minha surpresa quando encontro numhas maos amigas o livro que agora conto. em castelhano. e o lim, claro, ainda com o assombro na cara.
o diabo na cruz é um romance de manual. desses manuais que definem o gênero romance como o híbrido de todos os gêneros. no diabo na cruz colhem todas as tipologias textuais: parábola, conto, debate, salmo, poesía, refraneiro e escrita técnica [há um fragmento no que é explicado o funcionamento dum motor de explosiom. e eu dou por feito que o repto do autor era escrever prossa técnica em kikuyu].
porém o mais interessante para mim, o que fai o romance mais africano e menos europeu é o uso dos proverbios, das frases feitas: a pressa destraga a batata, a sabiduria fechada no coraçom nunca ganhou um juíço, a melhor vileza é a oculta, quando um branco se fai velho, come tenreira, a felicidade tem boca e estómago próprios e umha peçonhenta dentada. e toda esta proverbialidade nom é um adorno no texto, um toque exótico, senom que se entremete na trama, na estrutura, delineando o discurso e os discursos das personagens.
e o proverbio que preside este post é o que para mim explica a intençom do autor. porque a finalidade do livro está explicitada já na citaçom do início: a todos os keniatas em luita contra a etapa neocolonial do imperialismo. se este é o antílope, ngugi wa thiong'o pretende ser o homem odiado que o delate. e algo odiado é, pois nom pode entrar no seu próprio país.
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