segunda-feira, 29 de junho de 2009

baleia em ferro

alfredo ferreiro: metal central. espiral maior. a corunha 2009.

...o paraíso / pesado e puro / da vida mineral.

há uma imagem da que gosto muito para representar o abandono, a ruína: a do esquelete de um barco varado numa praia, as costelas exibindo ao mundo a ausência de corpo, carne, alma. e essa imagem leva-me sempre a um conto, penso que de dieste, no que fala do seu encontro com umha baleia agonizante na praia e o cheiro a saim entrando-lhe polas ventas.
e não sei por que, mas são essas duas imagens as que me vinhérom à mente trás a leitura de metal central. essas e as da panificadora de vigo e a das conserveiras abandonadas aqui nas costas arousás...
porque todas as fábricas são um esquelete de costelas formigão, carne tijolo, pele de cal. porque todas elas são dragões a devorar currantes en oferenda, virgens com macaco e luvas que estragam o seu tempo em uma cerimónia de sacrifício. todo pola família, a hipoteca, a dignidade.
em metal central apresenta-se uma frágua como um ser vivo, necessitado de alimento, uma baleia cujo sangue é metal ardente e liquado e cujo alento pode ser sentido se uma escuita atentamente. sangue que nós alimentamos e que nos alimenta.
porque todas as fábricas são uma meiga chuchona que decanta metais, dá lei ao ferro, aquilata ouros com a energia humana que absorve. como bom vampiro a fábrica vive na noite e renasce sempre entre lume e calor, argêntea ave fénix. amores, espírito, ânimo, humus humano transformado em newtons contabilizáveis.
de todo isto fala metal central. de todo isto fala, nunca melhor dito, o ferreiro.



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