sábado, 10 de maio de 2008

O Imperador

ryszard kapuscinski: el emperador. editorial anagrama. barcelona 1989.

hailu deve de ter começado a pensar.
tornou-se de súbito mui mui triste
.

Sigo de rolda pola áfrica guiada por kapuscinski. tocou-lhe a vez à etiópia e a quem fora a Sua Mais Sublime Magestade: haile selassie, imperador do país durante quase 50 anos.

O livro é umha crónica da queda do império, mas a voz de kapuscinski poucas vezes a lemos [marcando as suas intervençons com letra cursiva]. desta vez, em troca de ser ele o que conta aquilo que viu e viveu, dá a voz a outras gentes; artelha o livro como umha sucessom de testemunhas daquelas pessoas que trabalhárom na corte imperial, perto do imperador. vamos sabendo como era o dia a dia, as rotinas de palácio, as estratégias políticas do rei e dos seus dignatários, das intrigas pacegas, atravês dos depoimentos de antigos funcionários, velhos serventes, ainda fieis súbditos.

o interesse do livro está no choque entre o discurso dos declarantes e a realidade que esse discurso reflicte: a maioria sigue, morto o imperador, a mostrar-lhe fidelidade e respeito e conta da feira entanto lhe foi nela. para eles, o derrocamento do imperador foi obra de mentes subversivas que queriam acabar com a tradiçom. por trás das suas palavras podemos compreender amargosamente a realidade de corrupçom e nepotismo que se vivia na altura no país etíope. surpreende ler como som narrados feitos arrepiantes com a ingenuidade de quem conta umha trasnada na escola. com a mesma naturalidade com a que um pais se lamenta porque o filho deu em pensar outro narra como a polícia colhe cinco estudantes, os atira por um outeiro abaixo mentres lhes dispara para se entreter.

o tom das narraçom chega a ser surrealista e naif, por exemplo quando as testemunhas explicam as suas funçons no paço, desde Portador do Coxim Real, até Encarregado do Séquito... de nom ser, como bem indica kapuscinski numha das suas intervençons, que por baixo desta aparente comédia ou loucura egocéntrica, estendiam-se centos de cadáveres en forma de morte e fame.

leitura muito recomendável.

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