quarta-feira, 27 de agosto de 2008

pijamas raiados

boyne, john: o neno do pijama a raias. factoria k de libros. vigo 2007.

...vira umhas quantas vezes o pai de bruno e nom era quem de compreender como um homem como ele podia ter um filho tam simpático e boa pessoa.

venho de ler a grande obra, o romance curto que o boca-orelha tem levado ao topo das listagens de vendas. e lim-no, entre outras cousas, porque fijo chorar à metade do meu alunado de quarto da eso [lerom-no para a matéria de ética]. algho havia de haver...
o neno do pijama a raias é um romance curto. o protagonista é um menino de nove anos que sofre a mudança da família para umha nova casa, por mor do trabalho do pai. vem sendo este o início tópico de muita narrativa adolescente. só que aqui nom há nova escola, nova panda nem conflitos com o novo professorado [seria o típico]. a metade da trama transcorre com bruno sozinho, aborrecido lá no casarom que habita com a sua família. com o avanço dos capítulos vamos sabendo aquilo que o protagonista sabe: que o pai trabalha para o fura e que o novo trabalho do papá está em ousvich. e nós deduzimos, depois de ter-lhe colhido um aquel de agarimo ao menino que seu pai é nazi, que o chefe é o führer adolf hitler e que a mudança foi feita para assumir o papá a direcçom de auschwitz.
bruno sinte-se só no casarom, acompanhado unicamente pola família directa e o serviço doméstico. nom há nenos em toda a volta, só aqueles que vivem do outro lado das grades. e, jogando aos exploradores, descobre o único amigo que fará em ousvich: shmuel, um neno que sempre está triste e viste um pijama a raias. amizade perigosa e com final trágico.
o livro faz-se fácil e rápido de ler.
mas a mim falhou-me a inocência do bruno: tem nove anos, nom cinco nem três. porvezes penso que é ingênuo de mais. penso que se pode nom compreender a ideologia nazi e as causas do holocausto com nove anos [algumhas nom as acabamos de ver com mais de trinta], mas associar o campo de concentraçom a umha prisom nom me semelha tam longe dumha mente infantil, sobretodo num neno que razona para deduzir que nom pode ser umha granja de animais. vendo ao seu arredor soldados uniformados, como nom deduz que o pijama a raias é algum tipo de vestimenta oficial e nom mal gosto estético por parte de shmuel? como nom podia dar-se conta de que passa fame porque nom lhe dam de comer, e nom porque queira? e depois de ver a malheira dada polo tenente kotler a pavel, como nom pode associar essa violência à situaçom das pessoas tras do arame farpado? o menos coerente, algumhas das conversas com shmuel. toda essa inocência, ingenuidade de bruno, embora seja a fortaleza do romance, a mim renge-me. resulta-me crível no meu alunado de quarto da eso, que passa de histórias do passado, de políticas balorentas, de contos de velhas, mas nom numha criança que está a vivê-lo no seu presente.
o interessante da obra, para mim, é o facto de dar protagonismo a quem nunca o tivo: o lado nazi. as testemunhas, umhas cúmplices no seu silêncio [a mai de bruno] outras inocentes [o próprio bruno, a sua avô], situadas na banda do agressor [o pai de bruno]. e como avós, filhos ou netos nom tenhem por que ser responsáveis das barbaridades que umhas pessoas cometam. às vezes, neste mundo em que vivemos, esquecemos isso.
outro elemento interessante é essa tentativa de fazer um achegamento emocional a um acontecimento histórico. o horror do holocausto pode chegar muito máis facilmente à mocidade actual, penso eu, através da empatia com a vítima, que por meio de documentais históricos ou charlas magistrais na aula. a outra inocência de bruno [a sua condeia nom culpável e sem consciência real do por que, ao estilo kafka] é o espelho de todas essas outras mortes inocentes em todos os campos de concentraçom, nazis ou actuais, como bem indica a contracapa do livro.

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